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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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O <strong>de</strong>pauperamento da tropa trazido pela covardia <strong>de</strong> uns, pela inépcia <strong>de</strong><br />

outros; por <strong>um</strong> orgulho tolo <strong>de</strong> quase tôda (sic) a oficialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carreira,<br />

<strong>de</strong>sprezando os civis que se tornaram oficiais na linha <strong>de</strong> frente; pela gente<br />

do Exército não receber com boa cara o comando <strong>de</strong> superiores da polícia.<br />

Indivíduos incapazes <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r que ali não existe mais nem esta nem<br />

aquela corporação, mas <strong>um</strong> exército novo, que <strong>de</strong>vera permanecer unido e<br />

forte contra <strong>um</strong> inimigo unido e forte! Mas, qual! Era <strong>um</strong>a gentinha que,<br />

acima do <strong>de</strong>ver militar, punha as suas vaida<strong>de</strong>zinhas, as suas ambiçõezinhas,<br />

as suas mentalida<strong>de</strong>zinhas! (DUARTE, 1947, p. 58)<br />

Exausto pelos últimos ocorridos – a <strong>de</strong>bandada <strong>de</strong>snecessária do Salto e a carnificina<br />

do Trem Blindado – Paulo Duarte comenta que sentiu que o momento era doloroso e se<br />

inquietou com seus pensamentos <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nados: “a primeira vez que senti o <strong>de</strong>sespero invadir-<br />

me naqueles dias cheios <strong>de</strong> imundice física e moral” (p. 59).<br />

O massacre do Trem Blindado <strong>de</strong>spertou <strong>um</strong> intenso pavor entre os <strong>constitucionalista</strong>s,<br />

mas antes que se recompusessem dos tra<strong>um</strong>as, os combatentes tiveram que enfrentar a maior<br />

arma do terror: o “vermelhinho”. Era o momento do Piratininga assistir ao primeiro<br />

bombar<strong>de</strong>io sério, que foi sucedido por outros ataques com mais ímpeto: “Parecia que o<br />

inimigo tinha recebido refôrço (sic)” (DUARTE, 1947, p. 71). A reação do Piratininga foi a<br />

<strong>de</strong>bandada em pânico.<br />

Quase em meio do ataque, pelo morro da frente, começaram a <strong>de</strong>scer<br />

soldados em pânico. Nunca vi pavor como o que retratavam aquelas<br />

fisionomias! Os soldados atiravam-se pelo morro abaixo, como pedras a<br />

rolar […] Com os primeiros fujões, chegaram também os dois tenentes<br />

trazidos pelo Lopes. Comandavam a <strong>de</strong>bandada! (DUARTE, 1947, p. 70)<br />

Em condições <strong>de</strong> extrema violência e risco <strong>de</strong> morte como as que os soldados<br />

enfrentavam, especialmente sendo a maioria <strong>de</strong>les civis <strong>de</strong>spreparados para lidarem com essas<br />

situações, o <strong>de</strong>spertar do pânico era <strong>um</strong>a constante compreensível. Entretanto, nem todos<br />

admitiam que o pânico – <strong>um</strong>a reação normal ao estado <strong>de</strong> extremo perigo causado pelo<br />

bombar<strong>de</strong>io aéreo – fosse acompanhado por atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>bandada.<br />

Paulo Duarte apresentou-se bastante rígido em consi<strong>de</strong>rar que a guerra exigia dos<br />

soldados a superação das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> controlar o próprio medo, sendo importante se<br />

proteger e reagir na medida do possível. Entretanto, o autor <strong>de</strong>monstrou não admitir que os<br />

soldados se entregassem às fraquezas e adversida<strong>de</strong>s, consi<strong>de</strong>rando que era “covardia” ações<br />

como <strong>de</strong>bandadas, que eram prejudiciais também por facilitarem a infiltração do inimigo em<br />

terras <strong>constitucionalista</strong>s.<br />

A reação <strong>de</strong> ira contra essas atitu<strong>de</strong>s, especialmente cometidas por membros <strong>de</strong><br />

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