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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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sacrifícios físicos e concluído o percurso, <strong>de</strong>scobriram que a informação não procedia e,<br />

felizmente, ao regressarem, encontraram as trincheiras sozinhas, enquanto o inimigo<br />

continuava a atirar sem nada perceber.<br />

Qualquer novida<strong>de</strong> anunciada no front exigia providências imediatas. O <strong>de</strong>sencontro<br />

<strong>de</strong> informações acarretava <strong>um</strong> <strong>de</strong>sgaste físico e psicológico <strong>de</strong>snecessário aos soldados, n<strong>um</strong><br />

momento em que se exigia o máximo possível <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> esforços. Nesse caso, o<br />

<strong>de</strong>sfecho foi positivo. O mesmo não aconteceu com <strong>um</strong> erro cometido pelo Trem Blindado<br />

que, por engano, atacou <strong>um</strong>a trincheira amiga em Bianor. Os efeitos foram irreparáveis e o<br />

abalo foi geral entre as tropas ao receberem a notícia. O tenente Rosas conta a Paulo Duarte<br />

como tudo aconteceu.<br />

[...] o Trem viera já ao amanhecer. Havia alg<strong>um</strong>a clarida<strong>de</strong>. Podia-se bem<br />

distinguir a trincheira. Quando passou pela Vala Suja, os soldados<br />

levantaram-se para saudá-lo. A resposta foi a metralhadora. Apavorados, os<br />

ainda não atingidos <strong>de</strong>sataram aos berros “somos paulistas”! “somos<br />

paulistas”! Mas qual! Parece que foi pior, pois aí a trincheira era varrida<br />

mesmo <strong>de</strong> bala!...<br />

[...] a outra trincheira assistira a tudo, tanto assim que se <strong>de</strong>itaram no fundo e<br />

não se moveram enquanto o Blindado andou por ali. Até o inimigo viu o<br />

<strong>de</strong>sastre! (DUARTE, 1947, p. 62)<br />

Paulo Duarte tentou sossegar a tropa e atribuir o <strong>de</strong>sastre ao inimigo. “Não é<br />

verda<strong>de</strong>! Quando o Blindado avançava, o inimigo fez <strong>um</strong> ataque sobre o trem. Daí ter sido<br />

atingida gente nossa! Eu estava lá e vi! Feche a boca pra não dizer asneira!...” (DUARTE,<br />

1947, p. 56). Mas não adiantou, a tropa estava em <strong>de</strong>sespero, causado pela exaustão dos<br />

últimos dias e pela carnificina do Blindado.<br />

Percebe-se que no fim da narrativa as críticas aos oficiais foram intensificadas. A<br />

aproximação da <strong>de</strong>rrota exigiu que fossem apontados problemas e erros. A Frente Leste, que<br />

era <strong>um</strong>a das mais importantes, há dias não tinha <strong>um</strong> oficial e estava sob o comando <strong>de</strong> civis<br />

que, como Paulo Duarte, por mais que se esforçassem, não tinham conhecimentos militares. A<br />

indisposição dos oficiais em colaborarem com o aprendizado dos civis e com a guerra em si<br />

era o que mais indignava Paulo Duarte.<br />

A conduta dos militares com os quais teve contato fez-lhe acreditar que se<br />

interessavam mais pela carreira administrativa, longe dos quartéis e do perigo. O combatente<br />

relata o quanto repugnava “o espetáculo <strong>de</strong>primente <strong>de</strong> todos os dias dado por oficiais!”<br />

(DUARTE, 1947, p. 58), que lhe davam vergonha e <strong>de</strong>sespero.<br />

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