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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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é ruim mesmo pra toda a vida (DUARTE, 1947, p. 29)<br />

O autor vincula o papel i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> <strong>um</strong> oficial à figura <strong>de</strong> <strong>um</strong> mestre que ensina seus<br />

alunos e seguidores. Os soldados-civis <strong>constitucionalista</strong>s eram leigos em assuntos bélicos e a<br />

fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes combatentes era ainda maior diante do exemplo dos oficiais que<br />

<strong>de</strong>bandaram diante dos soldados estarrecidos. O exemplo da guerra po<strong>de</strong> ser transposto para a<br />

socieda<strong>de</strong>, pois a ausência <strong>de</strong> força moral dos oficiais parecia se esten<strong>de</strong>r para <strong>um</strong> conjunto<br />

bem maior <strong>de</strong> cidadãos, em especial os políticos.<br />

As frentes <strong>de</strong> 1932 iniciaram a lustração <strong>de</strong> <strong>um</strong>a gente nova. As florestas das<br />

velhas genealogias foi <strong>de</strong>rrubada, foi queimada neste agôsto (sic) terrível das<br />

queimadas, para a plantação dos cafezais <strong>de</strong> outra mentalida<strong>de</strong>. Das velhas<br />

árvores <strong>de</strong>sgalhadas, só ficou <strong>de</strong> pé <strong>um</strong> ou outro tronco <strong>de</strong> lei que resistiu ao<br />

fogo e permanecerá dando sombra às lavras môças (sic) e lembrando, na<br />

opulência que persiste e ostentar no porte, que a terra é boa, mas como tôda<br />

(sic) terra boa, se <strong>de</strong>u troncos <strong>de</strong> cerne, <strong>de</strong>u também muita ma<strong>de</strong>ira mole.<br />

Justamente essa ma<strong>de</strong>ira mole que as queimadas <strong>de</strong> 1932 estava <strong>de</strong>struindo.<br />

(DUARTE, 1947, p. 197)<br />

É interessante perceber a amplitu<strong>de</strong> do significado <strong>de</strong> 1932 para Paulo Duarte. Além<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong> movimento em <strong>de</strong>fesa da Constituinte e <strong>de</strong> oposição ao Governo Provisório, a guerra<br />

<strong>constitucionalista</strong> marcou <strong>um</strong>a luta em prol das transformações da estrutura e da mentalida<strong>de</strong><br />

arcaica e oligarca que haviam predominado no Brasil, especialmente no estado, até então.<br />

Essa mentalida<strong>de</strong> é associada ao perrepismo. Essa visão é presente em Palmares pelo Avesso e<br />

reforçada, com ainda mais ênfase, em <strong>Memórias</strong>.<br />

[…] nós precisamos, <strong>de</strong> qualquer maneira, impedir que se dê ao nosso<br />

trabalho o aspecto antipático e torpe <strong>de</strong> <strong>um</strong>a contra-revolução quando, em<br />

1932 como em 1930, os nossos fins eram exclusivamente acabar com a<br />

mentalida<strong>de</strong> triste que passou à história com o nome <strong>de</strong> perrepismo. Na<br />

primeira revolução lutamos contra o perrepismo do PRP. Na segunda<br />

lutamos também contra o perrepismo dos tenentes. Se os perrepistas nos<br />

acompanharam, foi porque fizemos crer a São Paulo que haviam envolvido e<br />

nunca para para ressuscitar <strong>um</strong> regime <strong>de</strong>plorável cujo renascimento nós, os<br />

moços do Brasil, jamais permitiremos. (DUARTE, 1975, p. 45)<br />

Nas duas citações <strong>de</strong> Paulo Duarte, apesar do distanciamento temporal em que cada<br />

<strong>um</strong>a foi escrita, percebe-se que há em com<strong>um</strong> a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> mudança relacionada a 1932.<br />

Menciona-se a diferenciação do “velho” (“velha nobiliarquia” e “velhas genealogias”), ligado<br />

ao oportunismo e privatismo, que tem seu espaço invadido por <strong>um</strong>a mentalida<strong>de</strong> “nova”<br />

(“mocida<strong>de</strong>” e “moços do Brasil”), mais relacionada à coletivida<strong>de</strong> e à <strong>de</strong>fesa dos interesses<br />

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