FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista
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<strong>um</strong> pouco agarrado, mas companheiro firme <strong>de</strong> todas as agruras. Entretanto, hoje nos<br />
mostrava as coisas diferentemente”.<br />
A situação <strong>de</strong> isolamento exacerbou ainda mais o sentimento regionalismo que existia<br />
em São Paulo. A população do estado revestiu-se <strong>de</strong> <strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong> “patriotismo<br />
regionalista”, que se caracterizava pela divulgação <strong>de</strong> que o bem do Brasil passa pelo bem <strong>de</strong><br />
São Paulo. Naquele momento, os paulistas colocaram-se à disposição para guerrilha ofertando<br />
esforços, bens, trabalho, família e a própria vida em <strong>de</strong>fesa da Pátria.<br />
Os paulistas viam nos dados econômicos e na compreensão <strong>de</strong> sua própria história o<br />
status que legitimava a sua li<strong>de</strong>rança nacional e justificava o apoio ao movimento<br />
<strong>constitucionalista</strong> solicitado aos outros estados. Para reforçar ainda mais a própria<br />
representação, os paulistas foram envolvidos nos discursos nostálgicos <strong>de</strong> valorização das<br />
glórias do passado. A imagem do paulista vinculada ao empreen<strong>de</strong>dorismo e à liberda<strong>de</strong><br />
aparece na obra <strong>de</strong> Paulo Duarte relacionada à luta <strong>constitucionalista</strong> pela <strong>de</strong>mocracia, tendo<br />
como símbolo os ban<strong>de</strong>irantes e ex-escravos do Quilombo dos Palmares.<br />
A imagem dos ancestrais ban<strong>de</strong>irantes é retomada n<strong>um</strong>a visão romântica <strong>de</strong> heróis<br />
paulistas. Consi<strong>de</strong>rava-se que São Paulo gozava as honras do estado mais rico do país graças<br />
à tenacida<strong>de</strong> daqueles que o construíram, ou seja, dos <strong>de</strong>sbravadores do território nacional que<br />
enfrentaram os perigos das matas e foram recompensados pela <strong>de</strong>scoberta das riquezas.<br />
A febre épica <strong>de</strong> valorização do ban<strong>de</strong>irante tinha finalida<strong>de</strong> comparada a <strong>de</strong> <strong>um</strong> mito<br />
<strong>de</strong> origem, que celebra os feitos do passado e justifica as ações do presente. A valorização da<br />
figura do ban<strong>de</strong>irante como herói <strong>de</strong>scobridor do país daria ensejo à superposição <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />
parte sobre o todo, ou seja, <strong>de</strong> São Paulo sobre o Brasil.<br />
Os feitos paulistas ganharam realce na reflexão sobre a história do Brasil. Gran<strong>de</strong> parte<br />
da riqueza nacional tinha origem no estado. Não só o sucesso das expedições ban<strong>de</strong>irantes,<br />
mas também o empreen<strong>de</strong>dorismo dos cafeicultores paulistas possibilitaram que o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> São Paulo se diferenciasse da economia mineira e fl<strong>um</strong>inense. A região<br />
tornou-se a mais avançada do país e sua imagem estava diretamente ligada a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
progresso nacional, pois a economia paulista se tornou o centro dinâmico da economia<br />
brasileira, sendo responsável por <strong>um</strong>a impulsão do crescimento econômico das outras regiões.<br />
Ass<strong>um</strong>iu-se o ban<strong>de</strong>irante como símbolo dos paulistas na revolução <strong>de</strong> 1932, sendo<br />
este <strong>um</strong> momento <strong>de</strong> encantamento cívico, organizado em torno da simbologia regional. Esse<br />
espírito <strong>de</strong> patriotismo paulista é chamado por Holien Bezerra (1988) <strong>de</strong> “mito da<br />
paulistanida<strong>de</strong>” 20 , cujas características são o apelo emocional aos ban<strong>de</strong>irantes e o discurso<br />
20 O período <strong>de</strong> 1930-32 é propício ao <strong>de</strong>senvolvimento da i<strong>de</strong>ologia da “paulistanida<strong>de</strong>”. O termo surge na obra<br />
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