12.04.2013 Views

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Atribuir ao movimento <strong>de</strong> 1932 <strong>um</strong>a conotação "separatista" foi, sem<br />

dúvida, a maior e mais eficiente arma i<strong>de</strong>ológica contra os que se opunham à<br />

ditadura Vargas. Muitos elementos contribuíram para que o restante do país<br />

aceitasse tal acusação. Um dos mais eficazes foi a propaganda maciça nos<br />

jornais e emissoras <strong>de</strong> rádio. A censura imposta pelo governo militar <strong>de</strong><br />

Vargas jamais <strong>de</strong>ixou passar a informação <strong>de</strong> que o Estado <strong>de</strong> Mato Grosso<br />

também lutava ao lado <strong>de</strong> São Paulo e nem qualquer notícia sobre as várias<br />

rebeliões antiditatoriais que pipocaram em mais oito Estados brasileiros. (DE<br />

PAULA, s/d) 17<br />

A imagem separatista do movimento não surgiu <strong>de</strong> acusações inférteis. Mais <strong>um</strong>a vez,<br />

elas encontravam alg<strong>um</strong>a correspondência no PRP. Confirmou-se que realmente havia <strong>um</strong><br />

pequeno grupo radical do partido que <strong>de</strong>fendia essa i<strong>de</strong>ia, inspirado cegamente pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

autonomia econômica do estado (PONTES, 2004). O radicalismo separatista, apesar <strong>de</strong><br />

restrito a <strong>um</strong>a minoria, incendiou as propagandas anti<strong>constitucionalista</strong>s. Paulo Duarte nega<br />

que o movimento tenha sido separatista e <strong>de</strong>smerece qualquer conquista <strong>de</strong> espaços e <strong>de</strong><br />

aliados que os governistas tenham obtido, expondo que nada significavam, pois foi<br />

conseguida à base <strong>de</strong> mentiras. Para o autor, o separatismo é isso: <strong>um</strong>a farsa governista.<br />

A existência <strong>de</strong> nortista e gente do sul, recrutados pelo inimigo, nada<br />

significava à vista da maneira por que êsse (sic) recrutamento se fazia, à<br />

custa <strong>de</strong> notícias falsas sobre São Paulo.<br />

Explorava-se o separatismo que nunca existiu do nosso lado, para arrastar o<br />

norte contra o sul. Dizia-se que os nossos intuitos eram bolchevistas, chegou<br />

–se a propalar <strong>um</strong>a revolta <strong>de</strong> estrangeiros [...]. Apoiado o inimigo em bases<br />

tão frágeis a nossa vitória era <strong>um</strong>a questão <strong>de</strong> tempo. O segrêdo (sic) da<br />

guerra estava em resistir o mais possível. (DUARTE, 1947, p. 244)<br />

Contudo, a exacerbação do sentimento <strong>de</strong> paulistanida<strong>de</strong> não é restrita à minoria<br />

perrepista, o que fortalecia as bases nas quais o inimigo se apoiava. Nas obras <strong>de</strong> Paulo<br />

Duarte, a menção ao movimento como <strong>um</strong>a causa paulista recebeu mais <strong>de</strong>staque do que a<br />

própria divulgação do que foram os i<strong>de</strong>ais <strong>constitucionalista</strong>s. É fácil imaginar como os<br />

adversários reverteram a questão em seu benefício, interpretando-a <strong>de</strong> forma a torná-la base<br />

das acusações <strong>de</strong> separatismo.<br />

No clímax da narrativa sobre guerra civil, quando começavam as inquietações com as<br />

sucessivas <strong>de</strong>rrotas, o autor chegou a admitir <strong>um</strong> possível rompimento com o Brasil. E, então,<br />

perceberam-se os tênues limites entre o que significava <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r São Paulo e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o<br />

Brasil.<br />

17 Jeziel <strong>de</strong> Paula em entrevista concedida a Jotabê Me<strong>de</strong>iros,“Fotografia foi usada para enfatizar mito<br />

separatista”, publicada no jornal O Estado <strong>de</strong> São Paulo, s/d. Disponível em:<br />

.<br />

31

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!