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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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central na preparação do clima revolucionário e na mobilização <strong>de</strong> voluntários. O jornal<br />

impresso foi o meio <strong>de</strong> comunicação mais usado em favor da campanha <strong>constitucionalista</strong>,<br />

<strong>de</strong>vido ao seu caráter persuasivo e à disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso a ele, consi<strong>de</strong>rando a presença<br />

<strong>de</strong> jornalistas e proprietários <strong>de</strong> jornais entre os membros dos partidos.<br />

A divulgação <strong>constitucionalista</strong> contava também com o rádio, que transmitia as<br />

marchinhas da campanha e os discursos pronunciados por políticos e oradores. Os radialistas<br />

também <strong>de</strong>clamavam poesias, sobretudo <strong>de</strong> Guilherme <strong>de</strong> Almeida, o “Poeta <strong>de</strong> 1932”<br />

(DUARTE, 1974, p. 77). Havia também as caravanas populares, que realizavam comícios no<br />

interior do estado, sendo <strong>um</strong>a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os oradores pronunciarem seus discursos<br />

inflamados e se aproximarem mais diretamente da população. Outro meio muito usado foram<br />

os panfletos, folhetos e cartazes distribuídos pelas cida<strong>de</strong>s.<br />

Empregou-se <strong>um</strong>a estratégia <strong>de</strong> convencimento à população, objetivando mobilizá-la<br />

em favor dos i<strong>de</strong>ais <strong>constitucionalista</strong>s. Uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> propagandas e discursos divulgou os<br />

princípios liberais como valores da socieda<strong>de</strong> paulista. Não houve nenh<strong>um</strong>a convocação<br />

oficial <strong>de</strong> forças. A propaganda por si teve <strong>um</strong> sucesso perceptível na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

voluntários que se alistaram e que participaram da luta tanto no front quanto na retaguarda.<br />

Acreditava-se que São Paulo li<strong>de</strong>raria a revolução.<br />

1.3 Quem é mesmo revolucionário?<br />

O processo <strong>de</strong> construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas das relações <strong>de</strong> analogias,<br />

mas a alterida<strong>de</strong> também é colocada como componente. Neste sentido, grupos, principalmente<br />

políticos, ao se perceberem diferentes <strong>de</strong> outros, estabelecem relações <strong>de</strong> oposição com<br />

aqueles. A imagem <strong>de</strong> si é, então, elaborada em <strong>de</strong>trimento da negação ou da renúncia das<br />

práticas e dos discursos que i<strong>de</strong>ntificam o outro grupo, que se torna adversário 13 . No caso da<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>constitucionalista</strong>, a principal característica é a oposição ao governo <strong>de</strong> Getúlio<br />

13 O trabalho monográfico <strong>de</strong> 2006 (Paulo Duarte: entre a História e a memória da Revolução<br />

Constitucionalista) tratou-se da <strong>de</strong>finição da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>constitucionalista</strong> como <strong>um</strong> processo <strong>de</strong> constantes<br />

transformações em que a imagem <strong>de</strong> si é construída conforme as representações apresentadas pelos opositores,<br />

em que busca-se negar as acusações, afirmar as posições <strong>de</strong>fendidas e não reconhecer as <strong>de</strong>nominações e ações<br />

positivas do governo. A questão foi melhor compreendida ao compartilhar das reflexões <strong>de</strong> Fabiana <strong>de</strong> Souza<br />

Fredrigo (2003, p. 90) que afirma: “Sabe-se que a construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a relação na qual a<br />

alterida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve colocar-se como componente [...] a figura do outro é estabelecida a partir do eu que exclui”.<br />

Assim, para construir sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, seja <strong>um</strong>a pessoa, <strong>um</strong> grupo ou <strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong>, passa a <strong>de</strong>finir-se<br />

contradizendo o “outro”, não só contrapondo-o, mas <strong>de</strong>smentindo-o e ocultando-o. A autora menciona o conceito<br />

<strong>de</strong> “<strong>de</strong>negação”, <strong>de</strong> Leandro Karnal, em que <strong>de</strong>negar é usar a imagem do outro para construir sua própria<br />

imagem e <strong>de</strong>finir o que não se quer ser.<br />

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