FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista
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Executivo, contudo, a revolução se transformou rapidamente, abandonando as pretensões <strong>de</strong><br />
aperfeiçoamento das práticas liberais. As cisões não <strong>de</strong>moraram a ocorrer. O PD se afastava<br />
dos setores tenentistas e os antigos adversários uniram-se contra a ditadura na Frente Única<br />
Paulista.<br />
O Manifesto que anunciava a aliança entre o PD e o PRP foi divulgado em 17 <strong>de</strong><br />
fevereiro e estruturava-se “em torno <strong>de</strong> dois problemas que envolvem todas as nossas<br />
esperanças e <strong>de</strong>stinos: a pronta reconstitucionalização do país e a restituição a São Paulo da<br />
autonomia <strong>de</strong> que há 16 meses se acha esbulhada” (PEREIRA, 1982, p. 81). O doc<strong>um</strong>ento foi<br />
redigido por Francisco Morato, representando o PD, e Altino Arantes, representando o PRP.<br />
Depois que a FUP foi fundada, iniciaram-se contatos nos meios militares.<br />
E a frente única graças ao Julinho se fez, e a revolução <strong>de</strong> 1932, cuja eclosão<br />
se <strong>de</strong>ve a ele, pô<strong>de</strong> estruturar-se com a participação militar do coronel<br />
Salgado, comandante da Força Pública 12 , do general Isidoro Dias Lopes e do<br />
coronel Eucli<strong>de</strong>s Figueiredo. Por estes dois últimos e por Joaquim Sampaio<br />
Vidal é que penetrei na conspiração. (DUARTE: 1974, p. 73)<br />
As altas oficialida<strong>de</strong>s do Exército manifestaram-se insatisfeitas com o fortalecimento<br />
do tenentismo, que gerou quebras <strong>de</strong> hierarquia militar, e também com medidas governistas<br />
<strong>de</strong> restrições <strong>de</strong> gastos e investimentos no setor. Os jornalistas <strong>de</strong> O Estado <strong>de</strong> São Paulo<br />
anunciavam as discórdias entre os militares governistas, comparando com a crescente união<br />
entre os partidários da Constituinte e estimulando os militares à reflexão e à a<strong>de</strong>são ao<br />
constitucionalismo.<br />
Os próprios revolucionários já estão experimentando, no círculo estreito em<br />
que movem, os inconvenientes da ditadura. Dissensões já se manifestam<br />
entre eles […]. Cada chefe militar consi<strong>de</strong>ra-se, nos períodos ditatoriais, o<br />
sustentáculo principal da ditadura […]. A discórdia sempre gostou <strong>de</strong><br />
circular entre os <strong>de</strong>uses...<br />
Meditem bem os militares sobre este fato, que é <strong>um</strong>a advertência: enquanto<br />
os <strong>de</strong>fensores da ditadura se <strong>de</strong>savêm e conten<strong>de</strong>m, crescem, entre os<br />
paladinos da Constituição a harmoniosa solidarieda<strong>de</strong>. (PEREIRA, 1982, p.<br />
292)<br />
A imprensa incitava a população a abandonar as diferenças, como havia feito o PRP<br />
e o PD, em apoio à campanha pró-constituinte. Os meios <strong>de</strong> comunicação ocuparam papel<br />
12 A Força Pública a<strong>de</strong>riu a Revolução Constitucionalista por posicionar-se contra o governo ditatorial após a<br />
dupla h<strong>um</strong>ilhação <strong>de</strong> ter se preparado para a Batalha <strong>de</strong> Itararé. Preparados para vencer, foram vencidos sem<br />
combate pela vitória da Revolução em 24 <strong>de</strong> outubro e por ter <strong>de</strong> se submeterem à ditadura tenentista.<br />
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