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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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As primeiras medidas adotadas pelo Governo Getulista, que suspen<strong>de</strong>u os direitos<br />

constitucionais, cassaram adversários políticos e impuseram <strong>um</strong>a série <strong>de</strong> medidas<br />

centralizadoras; em s<strong>um</strong>a, foi implantado <strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong> regime ditatorial, tendo como<br />

principal base social <strong>de</strong> sustentação os tenentes.<br />

O exercício do po<strong>de</strong>r é <strong>um</strong>a das coisas mais difíceis do mundo. Com<br />

autorida<strong>de</strong>, o homem sente-se inclinado naturalmente ao abuso. Se este<br />

homem então é proveniente <strong>de</strong> camadas menos adiantadas, espiritualmente,<br />

como no geral acontece com os militares <strong>de</strong> todo o mundo ou <strong>de</strong><br />

coletivida<strong>de</strong>s mais ou menos débeis, como é o caso do nosso povo, aquela<br />

inclinação surge ainda mais irreprimível e violenta. Que dizer pois <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

militar surgido, geralmente, sob a influência <strong>de</strong>sses dois signos sociais?<br />

O característico da vida militar é justamente o autoritarismo e a força. No<br />

nosso caso particular, autoritarismo e força exercidos pelos menos<br />

preparados para <strong>de</strong>les usar. Por isso que as nossas questões políticas<br />

ass<strong>um</strong>em sempre <strong>um</strong>a gravida<strong>de</strong> muito maior quando os militares pulam a<br />

janela dos quartéis para intrusar-se (sic) na casa civil da administração. Sem<br />

competência no melhor das vezes, no exercício das próprias funções na arte<br />

positiva da guerra, julgavam-se entretanto os únicos capazes da perfeição<br />

nos negócios complexos do governo. (DUARTE, 1947, p. 209-210)<br />

O vínculo entre Getúlio e os tenentes passou a ser severamente criticado pelos<br />

jornalistas, especialmente paulistas. Assis Chateaubriand chegou a ass<strong>um</strong>ir que sua<br />

implicância não era pessoalmente com Getúlio, mas com os “tenentes”, pois acreditava que<br />

eles estivessem arrastando o presi<strong>de</strong>nte e o governo para as posições nacionalistas e<br />

esquerdistas (MORAIS, 1994). Os críticos diziam que era necessário afastar o governo da<br />

presença dos tenentes e enrijá-los <strong>de</strong> disciplina e or<strong>de</strong>m.<br />

Alg<strong>um</strong>as medidas governistas representaram o combate às oligarquias regionais; a<br />

principal <strong>de</strong>las foi a nomeação <strong>de</strong> interventores estatais. Na luta contra o PRP, o Governo<br />

Getulista acabou ass<strong>um</strong>indo posturas que limitavam a autonomia política e econômica <strong>de</strong> São<br />

Paulo, <strong>de</strong>sagradando também aqueles que foram companheiros em 1930: o PD. Contrariando<br />

as pretensões dos aliados paulistas, o presi<strong>de</strong>nte nomeou como interventor João Alberto, <strong>um</strong><br />

tenente pernambucano. Esse cargo era almejado por Francisco Morato, presi<strong>de</strong>nte do PD, e a<br />

nomeação <strong>de</strong> <strong>um</strong> tenente para o lugar foi o gran<strong>de</strong> golpe <strong>de</strong> Getúlio para com os <strong>de</strong>mocratas.<br />

As escolhas e ações dos interventores não correspondiam aos interesses do PD. O<br />

Partido <strong>de</strong>clarava-se “<strong>um</strong> dos precursores e pioneiros do gran<strong>de</strong> golpe, que agora se celebra<br />

entre transportes misturados <strong>de</strong> júbilo e <strong>de</strong>sapontamento” e reivindicava que “aos partidos<br />

que fizeram a revolução é que <strong>de</strong>vesse caber sustentar o espírito revolucionário e reconstruir o<br />

organismo constitucional”, contudo, “não nos estranha a grita que contra eles se levanta”<br />

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