FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista
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e fotos), compondo o enredo da narrativa.<br />
1.2 Os paulistas e a Revolução na década <strong>de</strong> 1930<br />
O envolvimento <strong>de</strong> Paulo Duarte nas campanhas políticas da década <strong>de</strong> 1930 ocorreu,<br />
especialmente, em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> sua atuação em O Estado <strong>de</strong> São Paulo. No jornal, o autor<br />
conviveu com os novos intelectuais e empreen<strong>de</strong>dores paulistas, como Júlio <strong>de</strong> Mesquita, que<br />
ingressou no jornal em 1885 quando ainda era chamado <strong>de</strong> “Província <strong>de</strong> São Paulo”. Era<br />
genro <strong>de</strong> José Alves <strong>de</strong> Cerqueira César, <strong>um</strong> dos fazen<strong>de</strong>iros do café do oeste paulista que<br />
contribuiu para o jornal, e era <strong>um</strong> dos gran<strong>de</strong>s chefes do Partido Republicano Paulista (PRP).<br />
[...] Cerqueira César, o avó [<strong>de</strong> Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho] era <strong>um</strong> dos últimos<br />
patriarcas que teve São Paulo. Homem altaneiro, chefe, o principal chefe<br />
talvez do Partido Republicano, era rígido e mandava. Com sua formação, até<br />
Júlio Mesquita, temperamento <strong>de</strong> boêmio inteligente, tivera choques. Por<br />
isso mesmo, Cerqueira César, às vezes, irritava-se com os rompantes <strong>de</strong><br />
in<strong>de</strong>pendência do genro, rebel<strong>de</strong> ao mandonismo do velho partido que exigia<br />
sujeição e h<strong>um</strong>ilda<strong>de</strong> aos comandados. Diante <strong>de</strong>le se curvavam mesmos os<br />
altos chefes do velho Partido Republicano. (DUARTE, 1974, p. 70)<br />
A tradição patriarcal do “velho Partido Republicano” aos poucos foi questionada por<br />
<strong>um</strong> grupo <strong>de</strong> jovens e influentes liberais paulistas. O Partido Democrático surgiu com o<br />
intento <strong>de</strong> reformar os “cost<strong>um</strong>es” políticos em São Paulo e, posteriormente, do país,<br />
mobilizando a juventu<strong>de</strong> (<strong>de</strong> elite) em torno da <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> valores da nacionalida<strong>de</strong> (LOVE,<br />
1982).<br />
São os dissi<strong>de</strong>ntes do PRP que formaram o PD. Os <strong>de</strong>mocratas tinham <strong>um</strong> laço<br />
embrionário com a oligarquia paulista. Por isso, a cisão partidária po<strong>de</strong> ser compreendida<br />
mais pela diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interesses e estratégias políticas no interior das oligarquias do que<br />
pela diferença <strong>de</strong> projetos políticos. Os republicanos manifestavam-se favoráveis à formação<br />
<strong>de</strong> <strong>um</strong> mercado interno impulsionado pelo surto industrial em São Paulo, propondo a<br />
substituição <strong>de</strong> importações em claro <strong>de</strong>safio ao pacto liberal. Entre os fundadores do PD<br />
havia bacharéis, banqueiros e cafeicultores favoráveis à valorização do café e <strong>de</strong>mais preços<br />
pessoal para possíveis estudos futuros, por isso certamente escreveu esperando que seu registro fosse lido e<br />
servisse como fonte <strong>de</strong> estudo. Como escritor, e especialmente jornalista, a intenção <strong>de</strong> publicação dos escritos é<br />
perceptível. Alain Viala (1985 apud Alberti, 1991) diferencia o autor do escritor: o “autor” mantém-se como<br />
autorida<strong>de</strong>, originalida<strong>de</strong> e autoria, o “escritor” passa a ser reservado aos “autores” para os quais se torna<br />
necessário publicar a obra, porque ser escritor não terá valor sem o ato que instaura a relação com o leitor.<br />
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