FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista
FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista
FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Cláudio Abramo (1989) o <strong>de</strong>screve como <strong>um</strong> jornalista <strong>de</strong> escrita caudalosa e<br />
polêmica, com noções rígidas sobre o comportamento dos jornalistas, que teve poucos bons e<br />
fiéis amigos e muitos inimigos e que se ocupava e se divertia com suas <strong>de</strong>núncias aos<br />
políticos <strong>de</strong> reputação <strong>de</strong>saprovada por ele.<br />
Alto, esguio, <strong>de</strong> cabelo espetado, gravata borboleta, <strong>um</strong> ar empinado, gran<strong>de</strong><br />
bravura pessoal, amigo dos amigos, companheiro fiel e solícito, mas inimigo<br />
redutível, possuído <strong>de</strong> <strong>um</strong>a verve inigualável quando se tratava <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir<br />
adversários - sobretudo quando adversários <strong>de</strong> baixa estatura moral-, Paulo<br />
Duarte ocupou, na história <strong>de</strong> São Paulo, <strong>um</strong> papel importante e no<br />
jornalismo exerceu <strong>um</strong>a missão moralizadora.<br />
Hoje, provavelmente, noventa por cento dos jornalistas vivos e operando não<br />
sabem quem foi. (ABRAMO, 1989, p.73)<br />
Nos livros analisados, Paulo Duarte apresenta-se como sujeito crítico, por vezes<br />
cômico e irônico, pronto a expor sua opinião, pertinaz <strong>de</strong>fensor da justiça e opositor ao<br />
autoritarismo. Com certeza, muito lhe agradou a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> Érico Veríssimo, no prefácio <strong>de</strong><br />
“Raízes Profundas”, em que Paulo Duarte é comparado a <strong>um</strong> Dom Quixote mo<strong>de</strong>rno:<br />
cavalheiro andante capaz <strong>de</strong> entrar gratuitamente nas pelejas alheias, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que esteja em jogo o espírito <strong>de</strong> justiça e h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong>, esse Quixote lúcido,<br />
que jamais confun<strong>de</strong> moinhos <strong>de</strong> vento com gigantes, mas que se lhe<br />
surgissem gigantes no horizonte ele os enfrentará e lhes dará rijo combate<br />
(DUARTE, 1974, p.VI).<br />
A impressão é que alg<strong>um</strong>as vezes a passionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paulo Duarte foi o que lhe <strong>de</strong>u<br />
coragem e força para lutar pelo que realmente acreditava, fosse na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seus princípios,<br />
ou nos projetos em que esteve engajado. Envolvido <strong>de</strong> forma emocional nos conflitos,<br />
tomando-os como projetos pessoais e <strong>de</strong>monstrando sua forma moralista <strong>de</strong> pensar o mundo<br />
político e as amiza<strong>de</strong>s (criticou a politicagem, “os espetáculos das a<strong>de</strong>sões” e os gestos <strong>de</strong><br />
traições), o autor pagou o preço pela exposição franca <strong>de</strong> suas opiniões: foi preso, exilado,<br />
cassado. Em suas memórias, o autor expôs:<br />
Passei a vida brincando <strong>de</strong> sonhar sonhos impossíveis, aliás, todos sonhos<br />
bruscamente interrompidos em começo ou pela meta<strong>de</strong>, como o<br />
Departamento <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> São Paulo, o Instituto <strong>de</strong> Criminologia, o<br />
Instituto <strong>de</strong> Pré-História da nossa Universida<strong>de</strong>, o Institut Français dês<br />
Hautes Étu<strong>de</strong>s Brésiliennes <strong>de</strong> Paris, o Museu do Homem Americano, a<br />
revista Anhembi e por aí além... (DUARTE, 1974, p. 5)<br />
Apesar <strong>de</strong> presente e atuante em momentos marcantes da vida política e cultural, Paulo<br />
17