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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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população insatisfeita. Os <strong>de</strong>sentendimentos com o Governo Provisório culminaram, em 9 <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 1932, na eclosão da guerra civil.<br />

Ao estudar as memórias <strong>de</strong> Paulo Duarte, tema <strong>de</strong> minha monografia <strong>de</strong> conclusão<br />

do curso <strong>de</strong> História pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás, <strong>de</strong>paramos com citações do autor<br />

sobre Palmares pelo Avesso. Em contato com essa obra, percebe-se que, tratando-se do<br />

movimento <strong>constitucionalista</strong>, os vol<strong>um</strong>es analisados <strong>de</strong> <strong>Memórias</strong> e Palmares pelo Avesso<br />

apresentavam pontos em com<strong>um</strong> ao rememorar o passado. Os primeiros tratavam dos<br />

bastidores políticos no tempo prece<strong>de</strong>nte e posterior ao conflito e o último, da vivência da<br />

guerra. Percebi na interlocução entre as duas narrativas <strong>um</strong> caminho <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> a ser<br />

trilhado no mestrado.<br />

Paulo Duarte foi <strong>um</strong> intelectual militante tanto no âmbito da política como na <strong>de</strong>fesa<br />

da cultura brasileira. Seu compromisso radical com as causas que abraçou o transformou em<br />

<strong>um</strong> polemista, <strong>um</strong> aguerrido opositor, <strong>um</strong> homem <strong>de</strong> ação e <strong>de</strong> pensamento. Suas memórias,<br />

como bem lembrou, resultam do reconhecimento <strong>de</strong> si como homem compromissado com o<br />

Brasil, ainda que duvi<strong>de</strong> <strong>de</strong> que o Brasil o tenha compreendido.<br />

Em <strong>Memórias</strong> e Palmares pelo avesso percebe-se que Paulo Duarte nutria “projeto<br />

<strong>de</strong> memória”, em que buscava por meio <strong>de</strong> arquivos e <strong>de</strong> produções bibliográficas<br />

materializar suas lembranças e preservar os fatos relatados do esquecimento. Nos prefácios<br />

<strong>de</strong>ssas obras, Paulo Duarte apresentou o seu testemunho. Escrever tratava-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>por<br />

<strong>de</strong>marcando o sentido <strong>de</strong> sua vida em dois planos: o público e o privado. A separação se<br />

apresenta claramente nos seus livros <strong>de</strong> memória, embora a narrativa da vida acabe por<br />

ultrapassar a fronteira fragilmente construída.<br />

Segundo Paulo Duarte (1974, p.2) “A verda<strong>de</strong>ira história não é contada pelos<br />

doc<strong>um</strong>entos oficiais, mas pela correspondência e os diários <strong>de</strong>ixados por gran<strong>de</strong>s figuras,<br />

testemunhas exatas <strong>de</strong> acontecimentos ou nomes notáveis na política e na literatura”. Tal<br />

afirmação se aproxima <strong>de</strong> <strong>um</strong>a escrita que dialoga com a subjetivida<strong>de</strong>, embora se perceba a<br />

tradicional perspectiva assentada no acompanhamento da vida dos homens públicos. Segundo<br />

Calligaris (1998) a escrita <strong>de</strong> autobiografias, diários íntimos e memórias é <strong>um</strong> dispositivo<br />

crucial da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, sendo esse o tempo em que o sujeito ganha visibilida<strong>de</strong>. Contudo, o<br />

interesse por esses escritos como fonte só surgiu após a primeira meta<strong>de</strong> do século XX,<br />

quando foram questionados os paradigmas estruturalistas e <strong>de</strong>terministas que consi<strong>de</strong>ravam<br />

irrelevante o estudo da atuação do indivíduo. (SCHIMIT, 1997; MOTTA, 2000) 4 .<br />

4 A relação entre biografias e História prece<strong>de</strong>u a essa época. No século XIX, as biografias eram gêneros<br />

voltados a escrever a vida <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s homens, fundamentadas nos discursos oficiais e cronologicamente<br />

organizadas. O retorno da biografia no século XX parte <strong>de</strong> <strong>um</strong> olhar diferenciado como a emergência da história<br />

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