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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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suas narrativas 67 , embora seja nítido que o ato <strong>de</strong> lembrar e escrever a memória do movimento<br />

comporta claramente a dimensão afetiva e <strong>de</strong>scontínua das experiências h<strong>um</strong>anas.<br />

O movimento <strong>constitucionalista</strong> é analisado a partir da relação entre memórias, que<br />

se apresentam como escritas <strong>de</strong> sobrevivente que preten<strong>de</strong>m orientar análises históricas. Eis<br />

que se situa o que Eric Hobsbawn (1988, p. 15) chamou <strong>de</strong> “zona <strong>de</strong> pen<strong>um</strong>bra”, como <strong>um</strong><br />

território <strong>de</strong> incertezas em que se misturam nossas lembranças, as tradições e o elemento<br />

afetivo: “Para todos nós há <strong>um</strong>a zona <strong>de</strong> pen<strong>um</strong>bra entre a história e a memória; entre o<br />

passado como <strong>um</strong> registro geral aberto a <strong>um</strong> exame mais ou menos isento e o passado como<br />

parte lembrada ou experiência <strong>de</strong> nossas vidas” 68 .<br />

As escritas <strong>de</strong> contemporâneos aos fatos revelam <strong>um</strong> projeto <strong>de</strong> memória <strong>de</strong><br />

abrangência individual e coletiva, em que se articula para dar significado ao evento, às ações<br />

dos indivíduos e à própria vida. No presente estudo, buscamos perceber como a memória da<br />

guerra civil paulista foi reproduzida, reconstruída e conservada por Paulo Duarte e (em breve<br />

análise) por Eucly<strong>de</strong>s Figueiredo e Armando Brussolo.<br />

A revolução <strong>constitucionalista</strong> e a oposição a Getúlio Vargas marcaram<br />

<strong>de</strong>cisivamente a vida <strong>de</strong> alguns homens públicos, como nosso autor, que se <strong>de</strong>dicou a lutar<br />

não só contra o Governo <strong>de</strong> Vargas, mas contra a herança <strong>de</strong>ixada por ele. Muitos <strong>de</strong> seus<br />

trabalhos, entre eles seus nove vol<strong>um</strong>es <strong>de</strong> <strong>Memórias</strong> - que foram escritos a partir da década<br />

<strong>de</strong> 1965, com base em doc<strong>um</strong>entos e missivas dos anos <strong>de</strong> 1932 e 1933 - centram-se na<br />

narração dos fatos ocorridos na Era Vargas 69 .<br />

A importância dada aos fatos <strong>de</strong>sse período <strong>de</strong>monstra que o autor, anos após o final<br />

do Governo Vargas, dá continuida<strong>de</strong> à luta antigetulista, colocando-se contrário ao discurso<br />

oficial do Estado. Assim, compreen<strong>de</strong>-se que a luta antigetulista inclui não só a militância e o<br />

confronto armado, mas também o registro da memória dos movimentos <strong>de</strong> oposição, o que<br />

situa o interesse político <strong>de</strong>sse projeto <strong>de</strong> memória que reivindica <strong>um</strong> espaço no mundo<br />

extraliterário.<br />

67 Entre as obras analisadas neste trabalho, o pacto com o leitor em que se afirma a objetivida<strong>de</strong> do registro e o<br />

certificado <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong> da narrativa é percebido com mais evidência em <strong>Memórias</strong> <strong>de</strong> Paulo Duarte, Tudo pelo<br />

Brasil <strong>de</strong> Armando Brussolo e Contribuição para a história da revolução <strong>constitucionalista</strong> <strong>de</strong> Eucly<strong>de</strong>s<br />

Figueiredo.<br />

68 A relação entre a afirmativa <strong>de</strong> Hobsbawn e o evento <strong>de</strong> 1932 foi realizada também por Vavy Pacheco Borges<br />

(2002), quando a autor expôs que muitos indivíduos são testemunhas vivas dos fatos pesquisados e cada <strong>um</strong><br />

<strong>de</strong>les tem em sua mente <strong>um</strong>a história <strong>de</strong>sse passado próximo.<br />

69 A revolução <strong>constitucionalista</strong> é tema <strong>de</strong> significativo <strong>de</strong>staque na produção memorialista <strong>de</strong> Paulo Duarte. Em<br />

<strong>Memórias</strong> o autor reune os principais acontecimento <strong>de</strong> sua vida (da infância aos dias da escrita) e inicia o relato<br />

tratando <strong>de</strong> sua participação nas revoluções <strong>de</strong> 1930 e 1932, <strong>de</strong>ixando explícito no prefácio que escrevia para<br />

<strong>de</strong>ixar seu <strong>de</strong>poimento para a História. Percebe-se como o movimento marcou a vida do autor, que ao pensar no<br />

final da suas lutas – na morte – buscou <strong>de</strong>ixar sua contribuição e sua história para as gerações futuras.<br />

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