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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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Embora o <strong>de</strong>sfecho não tenha sido favorável aos <strong>constitucionalista</strong>s, o relato dos ex-<br />

combatentes estruturaram-se em prol da construção da epopeia paulita, o que <strong>de</strong>monstra a<br />

incapacida<strong>de</strong> em interiorizar a <strong>de</strong>rrota.<br />

119<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> narrar algo que seja <strong>um</strong>a epopeia transformará em cenas<br />

épicas as sucessivas retiradas das forças paulistas. Talvez seja <strong>um</strong>a das<br />

primeiras vezes em que as <strong>de</strong>rrotas sejam a base da narrativa dos feitos<br />

heroicos [...]. Reverter a negativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste fato, mostrando a organização, a<br />

racionalida<strong>de</strong> e a tranquilida<strong>de</strong> nas retiradas, é a tarefa a que se propõem<br />

essas obras. (CERRI, 2001, p. 31)<br />

Os autores retiram da história o aspecto individual da ação, transformando-a em<br />

representação <strong>de</strong> <strong>um</strong> espírito coletivo. Paulo Duarte, por exemplo, para criar <strong>um</strong> efeito<br />

positivo, esten<strong>de</strong>u ao grupo o reconhecimento pelos atos <strong>de</strong> bravura, mencionando que não<br />

apenas Augusto, mas outros jovens também que também porfiavam espaços na frente: “No<br />

gran<strong>de</strong> combate <strong>de</strong> Lorena, o espírito <strong>de</strong> sacrifício dêsses moços chegou ao auge. O pequeno<br />

Augusto foi promovido […] Mas, se pu<strong>de</strong>sse fazer inteira justiça, as promoções tinham que<br />

alcançar a todos” (DUARTE, 1947, p. 281).<br />

Assim, a imagem <strong>de</strong> heróis <strong>constitucionalista</strong>s é criada. Mesmo sendo <strong>de</strong>rrotada no<br />

confronto bélico, na tradição <strong>constitucionalista</strong>, remete-se aos ex-combatentes como heróis.<br />

Nesse caso, o papel heroico é reinterpretado, não exigindo necessariamente a vitória como nos<br />

contos homéricos, mas valorizando a coragem e o empenho. A adaptação do conceito <strong>de</strong> herói<br />

foi <strong>um</strong> meio <strong>de</strong> tornar a guerra paulista mais honrosa.<br />

A questão da honra é visivelmente relevante para Paulo Duarte e Eucly<strong>de</strong>s<br />

Figueiredo, que juntos assinaram o compromisso <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o movimento até as últimas<br />

consequências para evitar que se <strong>de</strong>sse a ele o aspecto da <strong>de</strong>sonra diante da invasão ditatorial<br />

e da traição. Como afirma Lucian Febvre (1998, p. 48), fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, disciplina, coragem,<br />

abnegação, honra, pátria são palavras que em tempo <strong>de</strong> paz parecem tão vazias <strong>de</strong> conteúdo,<br />

revelam-se, em certas horas, capazes <strong>de</strong> conduzir o homem a vida ou a morte. Nutridos <strong>de</strong>sse<br />

sentimento, Duarte e Figueiredo envolveram-se na fuga para prosseguirem na luta.<br />

Nos três autores, as notícias do armistício são recebidas com surpresa – mesmo<br />

Paulo Duarte 62 , que durante o texto <strong>de</strong>monstrava que a vitória parecia distante diante das<br />

adversida<strong>de</strong>s enfrentadas pelos soldados. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do lugar social em que se<br />

62 Ver Capítulo 2, quando ao narrar o final do conflito, Paulo Duarte <strong>de</strong>screve como a notícia do armistício é<br />

recebida com tristesa pela população e com alívio por alguns soldados e oficiais. O autor expõe os irônicos<br />

comentários dos companheiros <strong>de</strong> batalha sobre o “lindo armistício que o G.Q.G” os arranjou, comparando o<br />

fato a <strong>um</strong> “marido corneado: o último a saber” da traição (Ibi<strong>de</strong>m, p. 314).

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