12.04.2013 Views

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

da tensão, do inesperado e do sombrio. Nas obras <strong>de</strong> Murnau e Pabst, a câmara é usada para<br />

interpretar estados emocionais dos personagens que se <strong>de</strong>pararam com o confronto bélico, em<br />

que são questionados os valores tradicionais e há urgência <strong>de</strong> manifestar a inquietação em ver-<br />

se diante da cruelda<strong>de</strong> h<strong>um</strong>ana.<br />

Nesse mesmo sentido <strong>de</strong> abordagem, a obra <strong>de</strong> Paulo Duarte <strong>de</strong>monstra visíveis<br />

semelhanças <strong>de</strong> estilo narrativo com o romance pacifista do escritor alemão Erich Marie<br />

Remarque, Nada <strong>de</strong> novo no front (que inspirou o filme citado <strong>de</strong> Pabst) 55 . A notória obra <strong>de</strong><br />

Erich Remarque (1981) é a história do jovem alemão Paul Ba<strong>um</strong>er, que é convocado para a<br />

guerra e no front <strong>de</strong>parou-se com vidas parecidas com a sua: jovens que <strong>de</strong>ixaram paixões e o<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> conquistar o mundo para unirem-se pela “solidarieda<strong>de</strong> firme e prática” <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

da Pátria; com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação da melhor forma possível às situações adversas. Esses<br />

jovens <strong>de</strong> famílias h<strong>um</strong>il<strong>de</strong>s viram na guerra a primeira profissão <strong>de</strong> suas vidas e que se<br />

<strong>de</strong>pararam com <strong>um</strong> futuro incerto e <strong>um</strong> passado muito curto para ser o referencial no<br />

momento em que urgia retomar a normalida<strong>de</strong> da vida, marcada pela perda da mocida<strong>de</strong>.<br />

Verbaliza-se <strong>um</strong>a única certeza: a do absurdo da guerra, não importa o lado em que esteja.<br />

Os combatentes aparecem nas obras <strong>de</strong>sses autores como homens até então comuns,<br />

que enfrentam na guerra seus medos, solidões, espantos e crises <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero. Jovens com<br />

esperanças <strong>de</strong> futuro que eram ameaçados pelo conflito e que <strong>de</strong>sejavam ser livres para po<strong>de</strong>r<br />

realizá-los. Eles carregaram para o front a lembrança <strong>de</strong> suas vidas anteriores ao conflito, com<br />

poucas preocupações e obrigações, que agora se viram responsáveis por sua própria<br />

sobrevivência, sabedores que nem sempre <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>riam apenas do seu esforço pessoal. Vida e<br />

morte não estavam sob o controle unitário <strong>de</strong> cada homem. A constante ameaça <strong>de</strong> morte fez<br />

com que muitos <strong>de</strong>sses combatentes pensassem apenas na vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> se distanciarem da<br />

situação que vivenciavam, pouco importando o resultado final do conflito, para que voltassem<br />

a viver as próprias vidas 56 .<br />

55 A obra <strong>de</strong> Erich Remarque (cujo título original é All quiet on the western front) foi lançado em 1929. O êxito<br />

do livro logo se projetou em outros países e foi adaptado para o cinema, sendo consi<strong>de</strong>rado o melhor filme <strong>de</strong><br />

guerra, contemplando o autor. De fato, não se encontrou nenh<strong>um</strong>a prova explícita <strong>de</strong> que Paulo Duarte leu o livro<br />

escrito por Remarque. Contudo, o sucesso <strong>de</strong> Nada <strong>de</strong> novo no front o tornou acessível não só aos leitores e<br />

telespectadores do roteiro adaptado para o cinema. Apesar <strong>de</strong> tantos pontos <strong>de</strong> encontros, as obras <strong>de</strong> Paulo<br />

Duarte e Erich Remarque se distanciam por terem significativas diferenças: o primeiro é <strong>um</strong> protesto pacifista<br />

após a Primeira Guerra Mundial, da qual o autor fora testemunha; e Palmares pelo Avesso celebra a memória do<br />

movimento. Paulo Duarte mantém-se fiel a 1932 e é <strong>de</strong>fensor do patriotismo paulista. O autor lamenta a perda<br />

dos <strong>constitucionalista</strong>s e no livro avalia as principais falhas que não permitiu ao grupo alcançar a vitória militar.<br />

Apesar das aproximações entre Paulo Duarte e Remarque, não se po<strong>de</strong> afirmar que o paulista leu o livro do<br />

alemão, pois não há citações em sua obra. Supõe-se que Duarte tenha visto o citado filme <strong>de</strong> Pabst.<br />

56 Nesse sentido, Paulo Duarte (1947, p. 48) comentou, por exemplo, o aniversário <strong>de</strong> <strong>um</strong> estudante <strong>de</strong> Direito,<br />

“comemorado” no front: “Ano passado ficara três dias na bebe<strong>de</strong>ira comemorativa. Quê sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>um</strong>a farra!<br />

Hoje, <strong>um</strong> dia como os outros […] Todo encharcado na trincheira […]. O aniversariante hoje não sonhou em ser<br />

presi<strong>de</strong>nte da República […]. E comentava com o grupinho: - Se sonhei foi escapar <strong>de</strong>ssa”.<br />

113

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!