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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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comparação com os exemplos <strong>de</strong> “anti-heróis”, retratados como aqueles que se envolveram na<br />

luta e entregaram-se ao <strong>de</strong>sânimo. Lembrando que, para o autor, a honra não estava no<br />

alistamento, mas em servir no posto on<strong>de</strong> se exigisse mais esforços.<br />

Nesse sentido, o autor enfatiza as críticas aos oficiais e soldados da retarguarda e os<br />

elogios aos soldados da frente. Pessoas <strong>de</strong> diferentes categorias sociais e profissionais<br />

alistaram na luta; no entanto, as diferenciações apareceram no campo <strong>de</strong> batalha, em que<br />

alguns foram privilegiados em permanecerem na retaguarda, enquanto a frente era entregue à<br />

própria sorte.<br />

108<br />

Pensei no soldado da frente. O soldado da frente, aquêle (sic) que não tem<br />

nome e, pela eterna contradição das coisas, dá sempre muito mais do que os<br />

que o têm, geralmente é tão bravo no fogo, como tímido na retaguarda. Que<br />

não sofrem êsses (sic) pobres heróis na frente, para <strong>de</strong>pois serem pagos com<br />

o <strong>de</strong>sprêzo (sic) da retaguarda! A linha da frente é o ventríloquo da<br />

retaguarda. O ventríloquo dá voz ao boneco bem vestido e o boneco bem<br />

vestido recebe os aplausos da assistência... (DUARTE, 1947, p.168)<br />

O autor <strong>de</strong>monstra sua indignação com o uso <strong>de</strong> metáfora ao referir-se ao soldado<br />

como ventríloquo da retaguarda. Este apresenta <strong>um</strong>a imagem diferente do que os jornais e<br />

rádios divulgavam, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a guerra em que os sacrifícios da luta são enfrentados com<br />

empenho, vonta<strong>de</strong> e unida<strong>de</strong> entre os soldados. Na obra analisada, predomina <strong>um</strong>a percepção<br />

pessimista sobre a atuação dos soldados e oficiais <strong>constitucionalista</strong>s que recebiam os elogios<br />

in<strong>de</strong>vidos. Por isso, Paulo Duarte é ríspido em suas críticas à imprensa, pois os jornais<br />

apresentavam combates e heróis inexistentes, como Sereno, “pacífico ajudante <strong>de</strong> cozinha do<br />

nosso Q.G”, que apareceu entrevistado em <strong>um</strong> jornal, contando sobre “<strong>um</strong> combate da sua<br />

imaginação”, ao lado <strong>de</strong> “<strong>um</strong> retrato tirado aí em qualquer canto, <strong>de</strong> carabina, em posição <strong>de</strong><br />

quem, <strong>de</strong>itado, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> ferozmente a linha” (DUARTE, 1947, p. 190). Por outro lado, os<br />

jornais também supervalorizavam os militares e suas bravatas individuais, o que <strong>de</strong>sagradava<br />

os verda<strong>de</strong>iros combatentes no fogo.<br />

No geral, nosso repórter tanto tem <strong>de</strong> ignorante, como <strong>de</strong> preguiçoso e, com<strong>um</strong>ente,<br />

bajulador. Bajula os governos e contenta-se em publicar as notas<br />

do Palácio acrescidas <strong>de</strong> floreiros laudatórios, sempre os mesmos, mas <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> alcance futuro... Na guerra, apenas <strong>um</strong>a adaptação do sistema. A mesma<br />

coisa com os chefes militares que, pelas suas próprias funções, muitas<br />

vêzes nunca vão à frente […]. O fraco porém <strong>de</strong>sses jornalistas são mais as<br />

intendências do que as trincheiras. De outro lado, o fraco natural dos militares<br />

é a glória. (DUARTE, 1947, p. 91)

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