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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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INTRODUÇÃO<br />

Certa escrita da história do Brasil revela <strong>um</strong> sentido <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> como chave<br />

para a compreensão dos movimentos políticos que marcaram a socieda<strong>de</strong> brasileira. A<br />

in<strong>de</strong>pendência e a república foram avaliadas por esse prisma: a superficialida<strong>de</strong> da mudança<br />

encobria a permanência das estruturas do passado. É certo que tal percepção já se encontra<br />

golpeada pela renovação da pesquisa em História, mas ainda se conserva no senso com<strong>um</strong>. A<br />

Revolução <strong>de</strong> 1930 foge a esse enquadramento, pois a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> passagem para o Brasil<br />

mo<strong>de</strong>rno se firmou como interpretação hegemônica. Em torno da efetivação <strong>de</strong>ste marco,<br />

travou-se <strong>um</strong>a luta pela representação dos acontecimentos que levaram Getúlio Vargas ao<br />

po<strong>de</strong>r. Essa concepção, construída sob a ótica dos “vencedores” exigiu o esvaziamento da<br />

experiência política das elites liberais na Primeira República. (GOMES, 1980; SANDES,<br />

2003, 2008).<br />

Entre os movimentos subordinados a representação do vencedor se encontra a<br />

revolução <strong>constitucionalista</strong> <strong>de</strong> 1932. Nesse prisma o movimento é i<strong>de</strong>ntificado como<br />

separatista, conservador e contra-revolucionário, sendo <strong>um</strong>a tentativa <strong>de</strong> retomada do po<strong>de</strong>r<br />

por parte das oligárquicas paulistas. Discutir as representações em torno da Revolução <strong>de</strong><br />

1932 por meio da guerra travada entre os paulistas e o governo Vargas é o objetivo central<br />

<strong>de</strong>sse trabalho. Mesmo <strong>de</strong>rrotado, a memória da guerra permanece viva na tradição oral, em<br />

livros e celebrações cívicas. Analiso a guerra a partir do relato e da memória <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

contemporâneo, Paulo Duarte, que narrou o que viu no front e fora <strong>de</strong>le. Sua narrativa,<br />

portanto, tem <strong>um</strong> compromisso com a verda<strong>de</strong> como vivência.<br />

No ano <strong>de</strong> 2004, as <strong>Memórias</strong> 1 <strong>de</strong> Paulo Alfeu <strong>de</strong> Junqueira Duarte foram<br />

apresentadas a mim pelo Prof. Dr. Noé Freire San<strong>de</strong>s. No período <strong>de</strong> dois anos, com base<br />

1 A partir <strong>de</strong> 1965, Paulo Duarte começou a escrever suas memórias, só publicadas á partir <strong>de</strong> 1974 até 1980. As<br />

<strong>Memórias</strong> <strong>de</strong> Paulo Duarte constituem <strong>um</strong>a obra formada <strong>de</strong> nove vol<strong>um</strong>es: I - Raízes Profundas; II - A<br />

Inteligência da Fome; II - Selva Obscura; IV- Os mortos <strong>de</strong> Seabrook; V – Apagada e Vil Mediocrida<strong>de</strong>; VI –<br />

Ofício <strong>de</strong> Trevas; VII – Miséria Universal, Miséria Nacional e Minha Própria Miséria; VIII – Vou-me embora<br />

pra Pasárgada; IX – E vai começar <strong>um</strong>a era nova. O trabalho monográfico analisou os dois primeiros vol<strong>um</strong>es da<br />

obra memorialista <strong>de</strong> Paulo Duarte, em que a revolução <strong>constitucionalista</strong> é relatada com mais enfase.

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