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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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história e o lema dos mosqueteiros 51 evi<strong>de</strong>nciam virtu<strong>de</strong>s heroicas, como coragem, honra e o<br />

comprometimento do grupo em <strong>de</strong>fesa do i<strong>de</strong>al, ao ponto <strong>de</strong> corajosamente arriscar a vida.<br />

O exemplo dos heróis literários é lembrado no front, espaço da guerra verda<strong>de</strong>ira,<br />

on<strong>de</strong> se esperava que fossem <strong>de</strong>spertadas tais virtu<strong>de</strong>s. Ao evi<strong>de</strong>nciar os mosqueteiros <strong>de</strong><br />

D<strong>um</strong>as, Paulo Duarte dimensiona o “herói i<strong>de</strong>al”. No entanto, <strong>de</strong>monstrou (por meio da<br />

expressão “contos <strong>de</strong> fada”) que não encontrara nos soldados o comportamento esperado. O<br />

comentário do autor é percebido como <strong>um</strong>a crítica, especialmente aos combatentes que<br />

tinham ofícios militares.<br />

A guerra <strong>de</strong>sperta múltiplas percepções no combatente. No momento <strong>de</strong> escrita, o<br />

autor busca or<strong>de</strong>nar suas visões sobre o conflito e dar sentido a ele, avaliando o passado para<br />

reinterpretar o presente. Era preciso explicar a <strong>de</strong>rrota, mas também preservar a reputação do<br />

movimento. Por isso, o autor apresenta elogios e críticas, banalida<strong>de</strong>s e heroísmos. As<br />

explicações são buscadas não só nas dificulda<strong>de</strong>s bélicas enfrentadas pelo exército<br />

<strong>constitucionalista</strong>, mas são também relacionadas ao comportamento dos soldados. Nesse<br />

sentido, o autor sinaliza os “heróis” e “anti-heróis” <strong>constitucionalista</strong>s para garantir que sejam<br />

revestidos <strong>de</strong> glórias aqueles que <strong>de</strong> fato a mereceram.<br />

Paulo Duarte afasta a ilusão <strong>de</strong> <strong>um</strong>a guerra romantizada e expõe como o contato com o<br />

front acarretou a <strong>de</strong>sconstrução do imaginário <strong>de</strong> <strong>um</strong> conflito honroso e fácil. O autor (1947,<br />

p. 118) revela que “a princípio todos os moços levantaram-se, n<strong>um</strong>a exaltação magnífica <strong>de</strong><br />

entusiasmo para o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vitória sem tiros. Depois, tôda (sic) essa exaltação<br />

<strong>de</strong>sapareceu, não pelo horror que a guerra inspira naqueles que a conheceram <strong>de</strong> perto, mas<br />

pelo susto das primeira granadas”.<br />

A partir <strong>de</strong> afirmações como essa, o autor reforça a visão do movimento<br />

<strong>constitucionalista</strong> como <strong>um</strong>a guerra, que o diferenciava das paradas militares (que muito<br />

prece<strong>de</strong>ram a história do Brasil). Por isso, muitos não estavam preparados, especialmente<br />

aqueles que alistaram mais por vaida<strong>de</strong> do que pelo real conhecimento e <strong>de</strong>fesa do i<strong>de</strong>al. A<br />

imagem <strong>de</strong> <strong>um</strong>a guerra aos mol<strong>de</strong>s da tradição literária, <strong>de</strong> duelos gloriosos e rápidos foi<br />

<strong>de</strong>sfeita.<br />

Ao final do conflito, diante dos saldos (<strong>de</strong> vítimas e “traidores”), a guerra revelou-se<br />

cruel e a memória do herói <strong>constitucionalista</strong>, na obra <strong>de</strong> Paulo Duarte, foi construída em<br />

51 Alexandre D<strong>um</strong>as (1971) misturou aventura, h<strong>um</strong>or e amiza<strong>de</strong> no romance <strong>de</strong> 1844. Na obra, a imagem do<br />

herói é associada a virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> coragem e honra, que não estão estabelecidas por si mesma: <strong>de</strong>vem ser provadas<br />

perante o corpo social. A história diz que as qualida<strong>de</strong>s do jovem D’Artagnam são testadas por Athos, Porthos e<br />

Aramis, Os três mosqueteiros do rei Luís XVIII, cada <strong>um</strong> com <strong>um</strong>a habilida<strong>de</strong>, como nobreza, força e esperteza.<br />

D’Artagnam conquista a farda <strong>de</strong> mosqueteiro. Entre os quatro passa a existir <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>. Juntos lutam<br />

para preservar o trono das intrigas palacianas, enfrentando aventuras e perigos.<br />

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