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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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O general Bertholdo Klinger alegou que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do movimento, o alto<br />

comando tinha percepção <strong>de</strong> que a guerra estaria perdida, caso não houvesse <strong>um</strong><br />

acontecimento externo em socorro a São Paulo e Mato Grosso – pois o número <strong>de</strong><br />

combatentes era reduzido, consi<strong>de</strong>rando a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> armas e a ausência <strong>de</strong> aliados.<br />

Depois <strong>de</strong> todas as tentativas <strong>de</strong> reverter a situação bélica e com o esgotamento dos recursos,<br />

o general consi<strong>de</strong>rou que “o alto comando absolutamente não pretendia levar a guerra, a ferro<br />

e a fogo, a <strong>um</strong> gráo (sic) <strong>de</strong> <strong>de</strong>smedidos sacrifícios <strong>de</strong> vidas e <strong>de</strong> bens materiais”<br />

(FIGUEIREDO e KLINGER, 1933, p. 19). Diante disso, o alto comando tomou para si a<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propositura do armistício, mesmo não secundada pelo governo.<br />

O coronel <strong>de</strong>monstrou como Klinger articulou com os comandantes das frentes,<br />

conseguindo o apoio <strong>de</strong> nomes importantes, como o <strong>de</strong> Basílio Taborda e do coronel<br />

Herculano <strong>de</strong> Carvalho. Eucly<strong>de</strong>s Figueiredo tentou negociar com os comandantes, mas estes<br />

já haviam acertado os planos com Klinger e <strong>de</strong>fendiam sua posição, alegando que, como<br />

comandante geral, centralizador dos comandos, ele estava em condições <strong>de</strong> conhecer melhor<br />

que qualquer chefe isolado as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m geral do Exército Constitucionalista. O<br />

coronel verbalizou surpresa diante dos pronunciamentos dos colegas. Por fim, o autor afirmou<br />

que Klinger se ren<strong>de</strong>u e que havia se <strong>de</strong>clarado sem função, pedindo a Góes Monteiro que o<br />

resignasse ao seu <strong>de</strong>stino.<br />

O livro apresenta a guerra a partir do ponto <strong>de</strong> vista do alto comando, on<strong>de</strong> as<br />

<strong>de</strong>cisões são tomadas. Por isso, as observações são centradas nas operações táticas, na troca<br />

<strong>de</strong> informações e nos conflitos internos entre os comandantes, retratados em boletins diários<br />

das operações e dos res<strong>um</strong>os analíticos. As <strong>de</strong>scrições diárias da situação são diretas e breves:<br />

o autor usou linguagem militar, relatando a localização <strong>de</strong> batalhões, capitães e oficiais; se<br />

houve ou não alterações quanto aos <strong>de</strong>stacamentos; o nível <strong>de</strong> perdas <strong>de</strong> posição e <strong>de</strong> pessoal<br />

(se foram gran<strong>de</strong>s ou não); o estado moral das tropas; quais as táticas utilizadas e <strong>de</strong> que<br />

forma foram atacados pelos inimigos. O autor também <strong>de</strong>monstrou conhecimento das<br />

posições ditatoriais e reconheceu a eficácia <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>as manobras adotadas pelos adversários:<br />

“O ataque a Queluz se processou no dia 10 <strong>de</strong> agôsto (sic). Foi formidável; rendamos<br />

homenagens aos ditatoriais” (FIGUEIREDO, 1977, p. 209). Entretanto, ressalta-se que à<br />

narrativa cronológica são acrescentados elementos <strong>de</strong> análise obtidos com o conhecimento do<br />

<strong>de</strong>sfecho dos fatos, portanto, a perspectiva da guerra se amolda à visão do presente.<br />

Figueiredo transcreve notícias do jornal A Tribuna, <strong>de</strong> Santos. Percebe-se que o autor,<br />

em seu trabalho <strong>de</strong> triagem do material da época, buscou textos jornalísticos que<br />

corroboraram com a construção da imagem positiva dos chefes militares; privilegiou textos<br />

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