FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista
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sem expressar-se <strong>de</strong> forma direta e pessoal. O general apresentou-se em São Paulo no dia 12<br />
<strong>de</strong> julho. Até esse momento, Figueiredo havia sido o Comandante da revolução.<br />
Orgulhosamente, afirmou: “Tudo assim preparado e assegurado, já às 21 horas senti-me<br />
senhor da situação. São Paulo inteiro estava em nossas mãos […] o que havia <strong>de</strong> mais<br />
pon<strong>de</strong>rável nas tropas da Região passara a me obe<strong>de</strong>cer, e a revolução eu faria estourar daí a<br />
poucas horas” (Grifo meu – FIGUEIREDO, 1977, p. 122).<br />
Posteriormente, relatou que Klinger não c<strong>um</strong>priu sua promessa <strong>de</strong> apresentar consigo<br />
a tropa matogrossense, afirmando que essa não seria necessária para a vitória. A contribuição<br />
da tropa era esperada e sua ausência comprometia consi<strong>de</strong>ravelmente os planos formulados.<br />
Eucly<strong>de</strong>s <strong>de</strong>clarou que seu Estado-Maior foi <strong>de</strong>sfalcado para compor o grupo <strong>de</strong> Klinger.<br />
Relatou também que, durante a posse, este proferiu palavras <strong>de</strong>sconcertantes para os que<br />
pensavam em luta armada e se preparavam para ela: “disse que <strong>de</strong>víamos, preliminarmente,<br />
tentar a vitória pela conciliação” (1977, p. 149).<br />
Dessa forma, o autor <strong>de</strong>monstrou o abatimento <strong>de</strong> Klinger. Depois, <strong>de</strong>screve seu<br />
pronunciamento, em que, diplomaticamente, se dizia honrado <strong>de</strong> passar ao “distinto amigo” o<br />
comando da 2ª Região, e fez lhe <strong>um</strong> pedido <strong>de</strong> que ele os conduzisse com o pulso firme, para<br />
que São Paulo implantasse a ban<strong>de</strong>ira da Lei. O coronel <strong>de</strong>ixou explícita a diferença entre si e<br />
Klinger, <strong>de</strong>monstrando a veemência <strong>de</strong> seu comprometimento com a causa.<br />
Bertholdo Klinger é responsabilizado pelo <strong>de</strong>sfecho da guerra paulista <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
começo da narrativa <strong>de</strong> Eucly<strong>de</strong>s Figueiredo. Os conflitos entre os dois voltam a ter <strong>de</strong>staque<br />
ao final da luta quando se discutia o armistício, pois tinham posições contrárias.<br />
Eucly<strong>de</strong>s Figueiredo manifestou-se contrário a proposta <strong>de</strong> armísticio e alegava que o<br />
comandante-chefe, General Bertoldo Klinger, não tinha autorida<strong>de</strong> para fazer tal proposta,<br />
pois, para o coronel, 1932 não se tratava <strong>de</strong> <strong>um</strong>a guerra, mas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a revolução que não tinha<br />
no armistício seu fim.<br />
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Mostrei que não podia compreen<strong>de</strong>r como o general Klinger se julgasse com<br />
o direito <strong>de</strong> dar or<strong>de</strong>m para a cessação da luta pela simples investidura, que<br />
lhe coubera, <strong>de</strong> comandante-chefe do Exército Constitucionalista. Achava<br />
que mesmo n<strong>um</strong>a guerra regular, se é da competência do comandante-chefe<br />
pedir e discutir armistício com o adversário, êle (sic) não se po<strong>de</strong>ria arrogar<br />
autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrepor-se ao gôverno (sic), a que êle (sic) próprio <strong>de</strong>ve<br />
obediência; do contrário, haveria inversão <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res. Se isso acontecia na<br />
guerra regular, com muito mais forte razão <strong>de</strong>veria ser observado n<strong>um</strong>a<br />
revolução, em que cada <strong>um</strong> entra porque quer e <strong>de</strong>ve po<strong>de</strong>r sair somente<br />
quando quiser, ou mesmo não sair, se não quiser. (FIGUEIREDO, 1977, p.<br />
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