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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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oposição ao presi<strong>de</strong>nte, com o objetivo claro <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrubá-lo. Esse ano foi significativo também<br />

pela morte <strong>de</strong> Vargas em agosto.<br />

Eucly<strong>de</strong>s Figueiredo informou nas primeiras páginas que sua produção não se tratava<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong>a obra <strong>de</strong> memórias como outras sobre o movimento <strong>de</strong> 1932, que narravam episódios<br />

da campanha, faziam apologia ao esforço do povo ban<strong>de</strong>irante e eram restritos ao âmbito da<br />

participação <strong>de</strong> cada autor na luta. O autor expôs que apenas os chefes militares estavam em<br />

condições <strong>de</strong> oferecer material para <strong>um</strong>a história mais pormenorizada. Por isso, sua obra<br />

reúne as anotações feitas por ele e outros ex-combatentes durante o exílio em 1933 48 . O grupo<br />

produziu <strong>um</strong> ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> apontamentos em que anotaram, cronologicamente, as lembranças da<br />

guerra. Assim, consi<strong>de</strong>ra-se que o “livro é a concatenação, com as necessárias<br />

complementações, dos elementos colhidos naquelas fontes” (FIGUEIREDO, 1977, p. 14).<br />

Dadas as explicações, o autor afirma: “é ainda incompleto, mas é verda<strong>de</strong>iro”. E c<strong>um</strong>pre o<br />

ritual do pacto <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong> da narrativa. Estava, então, preparada a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> sua obra.<br />

Eucly<strong>de</strong>s Figueiredo <strong>de</strong>dicou dois capítulos específicos a tratarem dos momentos<br />

pretéritos a eclosão do movimento 49 . Começa questionando os mitos em torno <strong>de</strong> 1930,<br />

consi<strong>de</strong>rando-o como <strong>um</strong> golpe. Conclui-se que esse foi “<strong>um</strong> verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>sastre”, pois “o<br />

programa da Aliança Liberal ficou em letra morta” 50 e nenh<strong>um</strong> dos avanços do governo<br />

getulista justificou o abalo que sofreu a Nação, com o golpe a suas instituições<br />

(FIGUEIREDO, 1977, p. 15).<br />

O livro <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s Figueiredo po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como <strong>um</strong> texto <strong>de</strong> oposição a<br />

Vargas, portanto não se <strong>de</strong>teve apenas no episódio <strong>de</strong> 1932, ao contrário fez <strong>um</strong> panorama da<br />

presença política do governante, apontando as consequências negativas <strong>de</strong> quinze anos <strong>de</strong><br />

ditadura. Os u<strong>de</strong>nistas procuravam <strong>de</strong>ixar sempre claro que era necessário romper com esse<br />

passado monolítico e arbitrário. Por fim, exalta aqueles que em meio às turbulências<br />

perceberam que o Governo <strong>de</strong> Vargas representava a morte da <strong>de</strong>mocracia e não se <strong>de</strong>tiveram,<br />

pronunciando-se contra as arbitrarieda<strong>de</strong>s. Assim, Figueiredo elogia a todos que, como ele<br />

mesmo, perceberam a morte da <strong>de</strong>mocracia e que, com “muita convicção íntima” e “muita<br />

48 Os nomes citados por Eucly<strong>de</strong>s (1977) por terem contribuído com o ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> anotações da revolução são:<br />

Palimércio <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong>, o jornalista Austregésilo <strong>de</strong> Atahy<strong>de</strong> e o tenente José <strong>de</strong> Figueiredo Lobo.<br />

49 O livro analisado <strong>de</strong> Eucly<strong>de</strong>s Figueiredo é <strong>um</strong>a construção posterior a Era Vargas e vinte e dois anos após a<br />

guerra civil paulista, o que justifica a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a avaliação do contexto. A obra <strong>de</strong> Armando Brussolo e<br />

Paulo Duarte foram escritas em meio a efervescência dos fatos, não exigindo a exposição dos antece<strong>de</strong>ntes.<br />

50 Eucly<strong>de</strong>s Figueiredo (1977) foi contra o golpe <strong>de</strong> 1930, mas <strong>de</strong>monstrou ser a favor dos princípios<br />

<strong>de</strong>mocráticos <strong>de</strong>fendidos pela Aliança Liberal. Apesar <strong>de</strong> ter sido candidato pelo Partido Republicano Paulista,<br />

<strong>de</strong>monstrou ser simpatizante também do Partido Democrático, compreen<strong>de</strong>ndo as motivações <strong>de</strong> seu<br />

envolvimento com as revoluções <strong>de</strong> 1930 e 1932. Seu irmão, Leopoldo Figueiredo, foi <strong>um</strong> dos fundadores do PD<br />

em Santos e expressava a ele o <strong>de</strong>sgosto com os r<strong>um</strong>os dos acontecimentos, a <strong>de</strong>cepção com “os homens do Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul”.<br />

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