autodeterminação em timor leste - Gabinete de Documentação e ...
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<strong>Documentação</strong> e Direito Comparado, n. os 79/80 1999<br />
da paz e da segurança – e com o apoio activo <strong>de</strong> militares indonésios, começaram<br />
a impl<strong>em</strong>entar aquilo que parece ser um plano pr<strong>em</strong>editado para <strong>de</strong>struir<br />
todas as bases para a construção <strong>de</strong> um novo estado in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte: eliminação<br />
dos el<strong>em</strong>entos mais importantes da socieda<strong>de</strong> e da pró-in<strong>de</strong>pendência, ataques<br />
contra a igreja e seus el<strong>em</strong>entos, <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> documentos e estruturas fundamentais,<br />
<strong>de</strong>slocação forçada e <strong>de</strong>portação da população, etc. A primeira<br />
meta<strong>de</strong> do mês <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro pautou-se pela impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> uma política<br />
sist<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> homicídios, <strong>de</strong>saparecimentos, pilhagens, <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> bens<br />
imóveis e móveis, <strong>de</strong>portação e <strong>de</strong>slocações forçadas da população e violações.<br />
Foram também criados obstáculos à ajuda humanitária pelas forças armadas<br />
indonésias, que recusar<strong>em</strong> inicialmente garantir segurança, que po<strong>de</strong> ter<br />
levado a mortes por fome e doença que teriam sido eventualmente evitáveis.<br />
O que se passou <strong>em</strong> Timor Leste na primeira meta<strong>de</strong> do mês <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro<br />
foi o culminar <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> total violência e <strong>de</strong>struição. Na verda<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o anúncio por parte da Indonésia <strong>em</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1999 da realização <strong>de</strong><br />
uma consulta popular que po<strong>de</strong>ria levar à autonomia ou à sua rejeição<br />
(in<strong>de</strong>pendência), começou uma nova campanha <strong>de</strong> terror <strong>em</strong> Timor Leste.<br />
Os principais autores <strong>de</strong>sta onda <strong>de</strong> violência foram as milícias pró-integração,<br />
alegadamente criadas e armadas para o efeito pelas forças armadas indonésias.<br />
Alguns dos el<strong>em</strong>entos <strong>timor</strong>enses <strong>de</strong>stas milícias terão sido recrutados à força.<br />
Embora a maior parte das atrocida<strong>de</strong>s ligadas à realização da consulta popular<br />
tenha surgido após a vitória da in<strong>de</strong>pendência, não se pod<strong>em</strong> ignorar os crimes<br />
cometidos contra a população civil <strong>de</strong>signadamente a partir do mês <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong><br />
1999, com início no ataque à igreja <strong>de</strong> Liquiçá (que terá causado a morte a mais<br />
<strong>de</strong> 20 pessoas) e o ataque à casa <strong>de</strong> Manuel Carrascalão <strong>em</strong> Díli (on<strong>de</strong> pelo<br />
menos 12 pessoas morreram). Muitos outros ataques atribuídos às milícias,<br />
ocorreram até à data da consulta, dos quais resultaram mortes, <strong>de</strong>saparecimentos,<br />
<strong>de</strong>struição <strong>de</strong> casas e <strong>de</strong>slocação forçada <strong>de</strong> populações. Apenas o<br />
ataque a uma coluna humanitária <strong>em</strong> Liquiçá a 4 <strong>de</strong> Julho, perpetrado pela<br />
milícia Besi Merah Putih, foi objecto <strong>de</strong> julgamento durante o mês <strong>de</strong> Agosto<br />
por parte do Tribunal <strong>de</strong> Díli. Este julgamento não foi mais do que uma “farsa”,<br />
tendo todos os actos <strong>de</strong> violência praticados pelas milícias <strong>em</strong> Timor Leste<br />
permanecido na mais completa impunida<strong>de</strong> até hoje.<br />
Exist<strong>em</strong> provas <strong>de</strong> que a violência que se verificou <strong>em</strong> Timor Leste após<br />
a consulta popular, numa tentativa <strong>de</strong> boicotar os seus resultados, foi cuidadosamente<br />
orquestrada pelas autorida<strong>de</strong>s indonésias. Um documento confi<strong>de</strong>ncial<br />
elaborado pela Task Force indonésia <strong>em</strong> Díli (representação do Ministério<br />
dos Negócios Estrangeiros) intitulado “Avaliação da situação no caso <strong>de</strong> a<br />
Opção 1 falhar” e datado <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1999, partindo <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista<br />
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