autodeterminação em timor leste - Gabinete de Documentação e ...
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intimidatórias das milícias pró-integração levaram ao <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> muitos<br />
<strong>timor</strong>enses e limitaram fort<strong>em</strong>ente a capacida<strong>de</strong> dos apoiantes da in<strong>de</strong>pendência<br />
<strong>de</strong> se exprimir<strong>em</strong> livr<strong>em</strong>ente (cf. Relatório do Secretário-Geral S/1999/803,<br />
20 Julho 1999 e Carta para o Conselho <strong>de</strong> Segurança S/1999/822, 26 Julho<br />
1999). No período que antece<strong>de</strong>u a consulta popular, e com base nas estimativas<br />
<strong>de</strong> organizações humanitárias tais como o Alto Comissariado para os Refugiados<br />
(ACNUR), a UNAMET consi<strong>de</strong>rava que existiam pelo menos 50 000<br />
<strong>de</strong>slocados internos <strong>em</strong> Timor Leste e cerca <strong>de</strong> 5000 refugiados no Timor<br />
indonésio. Como afirmou o Secretário-Geral no seu Relatório <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> Julho,<br />
os <strong>de</strong>slocados internos “continuam a constituir uma séria ameaça para um processo<br />
<strong>de</strong> consulta credível”. A questão dos <strong>de</strong>slocados internos/refugiados foi<br />
uma das que mais preocupou a UNAMET durante todo o processo eleitoral.<br />
É que para além <strong>de</strong> um óbvio probl<strong>em</strong>a humanitário e <strong>de</strong> ser um sinal da<br />
inexistência <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> segurança, os <strong>de</strong>slocados internos constituíam<br />
também um probl<strong>em</strong>a eleitoral, face à exigência <strong>de</strong> os <strong>timor</strong>enses ter<strong>em</strong> <strong>de</strong> se<br />
recensear e votar no mesmo local.<br />
Esta ausência <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> segurança levou ao adiamento da data da<br />
consulta popular <strong>de</strong> 8 para 30 <strong>de</strong> Agosto (Carta do Secretário-Geral S/1999/<br />
/830, 28 Julho 1999). Antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir esta data, as Nações Unidas chegaram<br />
a pensar num adiamento mais prolongado da consulta – <strong>de</strong> modo a garantir<br />
que as condições <strong>de</strong> segurança estivess<strong>em</strong> reunidas, nomeadamente através<br />
da presença <strong>de</strong> uma força <strong>de</strong> manutenção da paz. No entanto, como tal aparentava<br />
ser apenas uma r<strong>em</strong>ota possibilida<strong>de</strong>, as Nações Unidas – com o<br />
acordo <strong>de</strong> Portugal, da Indonésia e da Resistência Timorense – <strong>de</strong>cidiram realizar<br />
a consulta ainda durante o mês <strong>de</strong> Agosto. Após a data ter sido marcada,<br />
não havia verda<strong>de</strong>iramente outra alternativa senão a realização da consulta.<br />
Para alguns, não fazer a consulta na data marcada “<strong>de</strong>struiria o coração dos<br />
<strong>timor</strong>enses”, que mostravam tanta corag<strong>em</strong> e <strong>de</strong>terminação <strong>em</strong> votar. Como o<br />
disse o Secretário-Geral “o povo <strong>de</strong> Timor Leste está a d<strong>em</strong>onstrar uma <strong>de</strong>terminação<br />
admirável <strong>em</strong> participar na consulta popular apesar da intimidação<br />
constante” (S/1999/822). Outros pensavam que era “agora ou nunca” e que<br />
um novo adiamento po<strong>de</strong>ria transformar o referendo <strong>em</strong> Timor Leste noutro<br />
Saara Oci<strong>de</strong>ntal, on<strong>de</strong> há nove anos as Nações Unidas tentam s<strong>em</strong> sucesso<br />
impl<strong>em</strong>entar um referendo sobre o futuro do território. Na verda<strong>de</strong>, não havia<br />
qualquer garantia que as condições <strong>de</strong> segurança iriam melhorar. De qualquer<br />
modo, estas nunca po<strong>de</strong>riam ser avaliadas por padrões oci<strong>de</strong>ntais e, como<br />
referiu numa ocasião um dos comissários eleitorais, a consulta popular <strong>em</strong> Timor<br />
Leste não seria “uma boa eleição, mas uma eleição possível”. Os verda<strong>de</strong>iros<br />
probl<strong>em</strong>as vieram a verificar-se, infelizmente, após o termo do processo<br />
eleitoral.<br />
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