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a mulher no corpo: uma análise cultural da reprodução - Garamond

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sexuali<strong>da</strong>de e gênero nas ciências sociais<br />

estranha, são usados para fazer prognósticos feministas. A autora acredita<br />

que estas descrições podem ser pensa<strong>da</strong>s como instantes de manifestação<br />

<strong>da</strong> revolta <strong>da</strong>s <strong>mulher</strong>es quanto à sua condição de subordina<strong>da</strong>s na<br />

socie<strong>da</strong>de. E vai mais longe ao afi rmar que essa experiência comum <strong>da</strong>s<br />

<strong>mulher</strong>es pode de fato se converter em <strong>uma</strong> base positiva para que se<br />

identifi quem como um grupo oprimido e busquem estratégias de fuga.<br />

Segundo ela, o problema é que até agora as <strong>mulher</strong>es identifi cam essa<br />

raiva muito mais com causas biológicas do que com a sua real condição<br />

de opressão. Se isso fosse reavaliado, as perspectivas de conscientização<br />

seriam promissoras (capítulo 7).<br />

O destaque <strong>da</strong>do a <strong>uma</strong> experiência comum às <strong>mulher</strong>es de determina<strong>da</strong><br />

cultura e seu possível poder transformador é ain<strong>da</strong> maior nas<br />

conclusões do livro, em que Martin, após sugerir que a ciência médica<br />

é liga<strong>da</strong> a <strong>uma</strong> forma particular de hierarquia e controle, afi rma que<br />

as <strong>mulher</strong>es podem usar a sua experiência comum para confrontar as<br />

concepções <strong>da</strong> medicina. É interessante que, embora diga que não se<br />

trata de <strong>uma</strong> volta à natureza mas de um outro tipo de cultura, ela<br />

concebe esta <strong>no</strong>ção de experiência a partir do <strong>corpo</strong>. Em função de vivenciarem<br />

processos <strong>corpo</strong>rais particulares, as <strong>mulher</strong>es conseguem ter<br />

a capaci<strong>da</strong>de de articular melhor dimensões ideologiza<strong>da</strong>s em domínios<br />

separados, como casa e trabalho, natureza e cultura, amor e contrato.<br />

Sendo assim, <strong>uma</strong> vez que se tornassem conscientes desse processo ou<br />

característica comum, poderiam ser capazes de perceber o problema<br />

destas dicotomias e propor <strong>uma</strong> <strong>no</strong>va ordem social.<br />

Talvez pelo fato de operar exatamente nesse terre<strong>no</strong> delicado <strong>da</strong> articulação<br />

entre ciência e feminismo, a autora consegue ser tão provocativa.<br />

E isso se refl ete na conformação do seu objeto e nas <strong>análise</strong>s que produz.<br />

É <strong>no</strong>tável como Martin se propõe a trabalhar <strong>no</strong>s marcos do construcionismo<br />

social ao mesmo tempo em que concede um valor particular ao<br />

<strong>corpo</strong> e às experiências vivencia<strong>da</strong>s em função de determinados constrangimentos<br />

<strong>corpo</strong>rais, o que não é comum em boa parte dos trabalhos que<br />

se coadunam com essa perspectiva.<br />

Além disso, o livro tem <strong>uma</strong> característica peculiar que é um certo<br />

tom de <strong>no</strong>vi<strong>da</strong>de <strong>no</strong> tipo de <strong>análise</strong> e na descoberta do impacto que o<br />

estranhamento <strong>da</strong>s concepções científi cas é capaz. Esse tom é responsável

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