CULTURA, IDENTIDADE E SENTIMENTO EM GABRIEL GARCIA ...
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instâncias nas quais as identidades são contestadas no mundo globalizado impulsiona<br />
uma análise da importância da diferença e das oposições na sua construção.<br />
A tradição moderna dominante nos estudos filosóficos e sociais concebe a<br />
individualidade do sujeito como algo preexistente. Entretanto, as teorias<br />
contemporâneas têm contestado esse modelo de expressão. As pesquisas da psicanálise,<br />
da linguística, da antropologia descentralizaram o sujeito em relação às leis de seu<br />
desejo, às formas de sua linguagem, às regras de suas ações ou ao jogo de seu discurso<br />
imaginativo. Se as possibilidades de pensamento e ação são determinadas por uma série<br />
de sistemas que o sujeito não controla e às vezes não compreende, então o sujeito está<br />
descentrado, no sentido de que não é o único centro existente capaz de explicar os<br />
acontecimentos.<br />
Isto pode ser caracterizado como parte de um processo mais amplo de<br />
mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades<br />
modernas e abalando os quadros de referência que davam ao sujeito uma estabilidade no<br />
mundo social. O próprio processo de identificação, através do qual se projetam as<br />
identidades culturais, tornou-se mais provisório, variável e problemático, bem como as<br />
relações entre os sujeitos, a cultura e os espaços de representação cultural.<br />
Sobre esse processo, Stuart Hall (2001) nos adverte que, de forma crescente,<br />
as paisagens políticas do mundo contemporâneo são marcadas por identificações rivais<br />
e conflitantes, e que a tendência em direção a uma maior interdependência global está<br />
deslocando as identidades culturais e produzindo uma fragmentação de códigos, uma<br />
multiplicidade de estilos, com ênfase no efêmero, no flutuante, na diferença e no<br />
pluralismo cultural.<br />
Partindo desses pressupostos, o presente artigo pretende demonstrar como<br />
Gabriel García Márquez trata da constituição das identidades das personagens principais<br />
do conto O rastro do teu sangue na neve (1994), com base nas noções de sujeito,<br />
identidade, espaço e lugar, advindas dos Estudos Culturais (BHABA, 2001; HALL,<br />
2001), revelando como estas identidades estão sendo deslocadas, inclusive<br />
simbolicamente, fenômeno característico das sociedades e culturas contemporâneas.