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CULTURA, IDENTIDADE E SENTIMENTO EM GABRIEL GARCIA ...

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a agonia e a longa espera pelo dia de visitar Nena Daconte. Toda a trajetória de Billy<br />

sem a esposa nos remete a um exílio, cujo cárcere é a sufocante e desumana a cidade de<br />

Paris com suas regras incompreensíveis por todos os lugares.<br />

A superioridade de Nena é confirmada até mesmo na hora de sua morte. É ela<br />

que pede para localizarem o marido, embora o esforço em vão de encontrarem Billy,<br />

que estava a poucos metros do hospital que a mulher convalescia. Até o último<br />

momento de sua vida, Nena Daconte cuidou de seu marido, exercendo o controle da<br />

relação, o que desqualificava de todo o machismo e o domínio que seu esposo julgava<br />

exercer. Percebe-se, portanto, que a narrativa também traz a discussão sobre gênero,<br />

com a valorização do feminino em detrimento da debilidade masculina, algo<br />

extremamente caro no interior da sexista cultura latino-americana.<br />

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Mais do que ver uma assimilação deslumbrada do modus vivendi europeu, o<br />

conto denuncia a incompreensão e a intolerância entre povos de culturas distintas. A<br />

França é retratada como uma nação egoísta, que só reconhece como válido os seus<br />

costumes e despreza aqueles que vivem na periferia do sistema. Nesse ponto,<br />

percebemos a existência da América Latina a partir do da visão de barbárie que o<br />

europeu faz a respeito deste território. Esse dado é extremamente importante para se<br />

pensar a identidade, uma vez que, conforme assinala Figueiredo e Noronha (2005,<br />

p.191) “[...] a identidade não é elaborada isoladamente”.<br />

Se Nena Daconte transitava com tanta facilidade pela Europa, é porque ela<br />

passara a vida estudando em colégios internos europeus. Nena era aceita não por ser<br />

colombiana, mas por conhecer os códigos culturais do Velho Continente. Com efeito, o<br />

que se reconhecia e se destacava em Nena não era a sua origem latina, mas sua alta<br />

capacidade de assimilar os valores estrangeiros.<br />

Nesse ponto, talvez seu esposo tenha agido, embora sem muita consciência<br />

disto, de modo mais autêntico, malgrado seus péssimos modos e vícios. Billy Sanchez<br />

resistiu e enfrentou a cultura francesa o máximo que pôde, até ser vencido por um país<br />

que o fez sentir um bárbaro ao tratá-lo como uma escória social, mesmo que seu<br />

comportamento com os franceses estivesse longe de ser exemplar.

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