A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...
A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...
A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
182<br />
interna<strong>do</strong>, ele tava muito mal quan<strong>do</strong> eu conversei com ele. A<br />
gente já sabia que ele não tinha cura, a família já sabia disso<br />
e tu<strong>do</strong>, a família era muito apegada a ele, então a gente<br />
acompanhou ele, fiz o que pu<strong>de</strong>, eu conversava muito com<br />
a família, e com ele. Foi difícil, mas eu consegui. Dá uma<br />
impotência, mas foi gratificante esse la<strong>do</strong> <strong>de</strong> ajudá-los.”<br />
[Fragmento <strong>de</strong> entrevista – Ricar<strong>do</strong>– Resi<strong>de</strong>nte 1]<br />
“Acho que o sentimento pior que tem é o <strong>de</strong> impotência,<br />
no caso <strong>do</strong> paciente com câncer né, você sabe que ele tá<br />
pioran<strong>do</strong> e não po<strong>de</strong> fazer muita coisa, então é um<br />
sentimento <strong>de</strong> impotência diante <strong>do</strong> paciente. [...]. O que é<br />
mais gratificante pra mim é a cura. Infelizmente muitas<br />
vezes não é o que acontece, e a função <strong>do</strong> médico não é<br />
exatamente curar, muitas vezes é aliviar, né? Dar conforto ao<br />
paciente. Eu acho que a cura é o máximo que você encontra,<br />
né? Principalmente na minha área <strong>de</strong> cirurgia que lida muito<br />
com isso, você tem a opção <strong>de</strong> muitas vezes num<br />
procedimento cirúrgico você curar um paciente. Mas você<br />
<strong>de</strong>scobre no dia a dia que não é Deus, que não é<br />
onipotente, sabe! E o melhor é que <strong>de</strong>scubra ce<strong>do</strong> pra<br />
não ficar como uns se achan<strong>do</strong>. E ai você vai valorizar o<br />
que você fez para ajudar o paciente que também é seu<br />
papel.” [Fragmento <strong>de</strong> entrevista – Rafael – Resi<strong>de</strong>nte 2]<br />
“Eu acho que eu não vou me sentir mal se eu vir que<br />
realmente fiz o que tinha que ser feito, que a minha missão<br />
foi cumprida, que eu <strong>de</strong>i a atenção que ele precisava, <strong>de</strong>i o<br />
apoio que ele precisava, <strong>de</strong>i o tratamento que ele precisava.<br />
Eu acho que eu não vou me sentir mal, impotente por<br />
isso, se eu pu<strong>de</strong> fazer muito e saber que fiz.” [Fragmento<br />
<strong>de</strong> entrevista – Felipe - 4º ano/8º perío<strong>do</strong>]<br />
Martins (2004, p.26) esclarece:<br />
Onipotência, no entanto, não é potência nem se opõe à<br />
impotência. Ao contrário, onipotência é <strong>de</strong>fesa contra a<br />
ameaça <strong>de</strong> impotência, mas, reativa, mantém esta da qual se<br />
quer livrar. Ambas, portanto, impotência e sua máscara a<br />
onipotência, se opõem à potência.<br />
As ilustrações apontam sinais da <strong>de</strong>scoberta da potência presente no<br />
estar junto <strong>do</strong> paciente, para além da lógica <strong>do</strong> fazer meramente<br />
instrumental. Tal perspectiva implica optar por uma medicina que consi<strong>de</strong>re