12.04.2013 Views

Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

(45) Ela correu para a porta da cozinha e gritou (s12). Foi da janela da cozinha que ela<br />

viu ele ficar subitamente teso e largar a enxada, como se a enxada tivesse lhe dado um<br />

choque (s11) 21 ,<br />

parece não fazer muito sentido. Nesse caso, a or<strong>de</strong>m temporal dos eventos veiculados<br />

no pretérito perfeito, ou seja, perfectivamente, é também um fator <strong>de</strong> coesão textual que<br />

<strong>de</strong>ve ser mantido porque apresenta os eventos na or<strong>de</strong>m em que ocorrem <strong>de</strong> fato,<br />

enca<strong>de</strong>ando-os.<br />

Um último teste ao qual po<strong>de</strong>mos recorrer para enquadrar os eventos numa das<br />

duas perspectivas<br />

aspectuais é a compatibilida<strong>de</strong> com adjuntos do tipo ‘durante / por X<br />

tempo’: somente<br />

eventos perfectivos são compatíveis com tais adjuntos em uma leitura<br />

semelfactiva, i.e., on<strong>de</strong> não há repetição:<br />

(46) (Ontem, no fim da tar<strong>de</strong>,) João falou com Maria durante/por 20 minutos (e voltou<br />

para casa).<br />

(47)<br />

(*) (Ontem, no fim da tar<strong>de</strong>,) João falava com Maria durante/por 20 minutos (e<br />

voltava para casa).<br />

A sentença (46) é boa tanto com a leitura do trecho entre parêntesis, quanto sem essa<br />

leitura. A sentença (47), porém, só é boa se interpretada <strong>de</strong> uma maneira na qual há<br />

repetições <strong>de</strong> eventos, interpretação que se torna altamente improvável quando se leva<br />

em conta os trechos entre parêntesis. Note, no entanto, que a sentença em (47) se torna<br />

aceitável se acrescentamos uma outra sentença, no perfectivo: ‘quando a luz apagou’.<br />

Neste caso, incluímos um outro evento que ocorre durante o evento <strong>de</strong> falar ao telefone.<br />

O adjunto está medindo o tempo que o evento <strong>de</strong> falar ao telefone estava durando até a<br />

ocorrência<br />

da falta <strong>de</strong> luz.<br />

Os aspectos perfectivos e imperfectivos são, com efeito, apenas uma macrodivisão<br />

que po<strong>de</strong> ser ainda subdividida <strong>de</strong> ambos os lados. O problema é que<br />

dificilmente encontramos um acordo entre dois pesquisadores sequer sobre quais seriam<br />

essas subdivisões... no que tange ao perfectivo, para muitos ele não possui subclasses.<br />

Para o caso dos imperfectivos, há consenso em diferenciar pelo menos duas subclasses:<br />

21<br />

Aqui não consi<strong>de</strong>raremos<br />

a interpretação <strong>de</strong> que a personagem masculina tenha ficado “subitamente<br />

teso” <strong>de</strong>vido ao grito da personagem feminina, pois essa não é a interpretação original. O ponto a notar<br />

aqui<br />

é que, com relação a tempos imperfectivos, a troca da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> sentenças, além <strong>de</strong> não implicar em<br />

seqüências<br />

mal-formadas, não altera a interpretação original.<br />

90

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!