Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

(d) Às 5 horas, o João tinha chegado.
E o que acontece para uma sentença como:
(e) Joana vai dormir até mais tarde?
Um último ponto a ser salientado é que, recorrendo apenas à referência temporal, é
impossível
distinguir tempos que a gramática separa e que usamos em contexto muitos
distintos; esse é caso do pretérito perfeito e do imperfeito, como vimos acima, que
veiculam, conforme podemos ver pelas formas associadas a eles, um evento que
acontece antes
do momento de fala (como nas sentenças (30) e (31)). A diferença entre
o pretérito perfeito e o imperfeito é, na verdade, uma diferença aspectual, noção essa
totalmente distinta da noção de referência temporal, pois não é dêitica e não tem a ver
com a localização
de evento em uma reta do tempo, mas sim com a representação ou
apresentação
que o falante faz do evento quando o veicula.
4. Aspecto
Diferentemente do “tempo verbal”, o aspecto verbal é pouco tratado em nossas
gramáticas tradicionais que, de resto, quando mencionam esse fenômeno o fazem muito
timidamente, como se se tratasse apenas de uma idiossincrasia do português. Esperamos
que ao fim dessa seção tenhamos conseguido mostrar que não se trata disso, mas antes
de um fenômeno muito rico e complexo, que pode ser expresso por diversas maneiras
em uma mesma língua e nas várias línguas.
Para começo de conversa, tomemos algumas sentenças:
(37) João estava lendo o livro ontem, das 14h00 às 16h00.
(38) João leu o livro ontem, das 14h00 às 16h00.
Supondo
que se trata do mesmo livro, do mesmo João e das mesmas datas e horas, qual
é a diferença entre essas sentenças? Como já adiantamos na seção acima, essa diferença
não pode ser de referência temporal, pois ambas as sentenças têm a mesma fórmula (
ME(LT) – MF ). Será que João fez algo
de diferente em (37) e (38)?
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