Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

(9) * João
(AG) cortou com a faca (IN).
(10) ? A faca (IN) cortou o pão (TE).
(11) * O pão cortou.
(12)
O pão (TE) foi cortado com a faca (IN).
(13) João (AG) quebrou a televisão (TE) com a chave de fenda (IN).
(14) João (AG) quebrou a televisão (TE).
(15)
* João (AG) quebrou com a chave de fenda (IN).
(16) ? A chave de fenda (IN) quebrou a televisão (TE).
(17) A televisão
quebrou.
(18) A televisão (TE) foi quebrada com a chave de fenda (IN).
Através do contraste entre as sentenças (7), (9) e (10),
e (13), (15) e (16), podemos
dizer que,
para os verbos ‘cortar’ e ‘quebrar’, a hierarquia temática é AGENTE >
TEMA > INSTRUMENTO. Isso quer dizer, entre outras coisas, que é mais fácil (por
falta
de um termo melhor) deixar de fora da estrutura de sentenças formadas com esses
verbos o INSTRUMENTO do que o TEMA, e o TEMA do que o AGENTE.
O que chamou muito a atenção dos lingüistas foram as sentenças (11) e (17), que
deixamos,
propositalmente, sem a indicação de papel temático. Esse fenômeno é
conhecido como “alternância ergativa” e somente alguns verbos do português o
apresentam. Além de ‘quebrar’, você consegue pensar em outros que exibem essa
alternância ergativa?
Os verbos intransitivos são muito mais complexos do que as gramáticas
tradicionais podem sugerir e muitos esforços já foram feitos para sistematizar essa
classe, principalmente dentro da sintaxe gerativa. Entre os resultados da pesquisa
lingüística,
está a divisão ulterior da classe dos intransitivos em: inacusativos,
inergativos, verbos de alternância ergativa, verbos apresentacionais...
Quanto à questão inferencial, sabemos que da sentença (5) inferimos (6); intuímos que
(6) é acarretada por (5). Mas qual é o problema aqui? Ao formalizar essas sentenças na
meta-linguagem que estamos utilizando, teremos algo como:
(5’)
A(j,p) = João está na relação de abrir com a porta. João é o AGENTE e a porta é o
TEMA.
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