Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

Vamos, no entanto, adotar a hipótese dos papéis temáticos. É devido, entre
outros fatores, à atribuição de papéis temáticos diferenciados que não podemos inverter
a ordem dos argumentos de um verbo. Compare-se (3) e (3’):
(3) João beijou a Maria.
(3’) Maria beijou o João.
Essas sentenças não dizem o mesmo, precisamente porque alteramos
os papéis
temáticos.
Podemos, portanto, dizer que o verbo é o núcleo da predicação porque é nele
que encontramos quantos argumentos
(ou papéis) são necessários para saturar uma dado
predicado e qual a função (papéis) desses argumentos.
Contudo, como podemos dar conta, através da análise exposta acima, do
seguinte conjunto de sentenças?
(5) João abriu a porta.
(6) A porta abriu.
Apesar da aparente simplicidade dessas duas sentenças e das relações intuitivas entre
elas, elas nos colocam problemas extremamente complicados. Um deles, o primeiro que
veremos agora, refere-se à estrutura temática das sentenças; o segundo problema tem a
ver com a possibilidade de embasarmos via uma meta-linguagem a inferência que
podemos fazer de (5) para (6), ou seja, se João abriu a porta, então a porta
necessariamente foi aberta. A sentença (5) acarreta a sentença em (6) (mas não viceversa).
Juntamente com a idéia de papéis temáticos, encontramos nas pesquisas
lingüísticas idéias sobre “grade” ou “hierarquia temática”. O que está por trás desses
nomes nada mais é do que a intuição de que alguns papéis temáticos são mais essenciais
(por falta de um termo melhor) do que outros. Para que isso fique mais claro, pensemos
nas sentenças abaixo, com os papéis temáticos de AGENTE (AG), INSTRUMENTO
(IN) e TEMA (TE) indicados:
(7) João (AG) cortou o pão (TE) com a faca (IN).
(8) João (AG) cortou o pão (TE).
77