Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina
Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina
Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>de</strong>ve cuidar dos afazeres da casa, que chuva molha a roupa, que o que a Joana disse é<br />
verda<strong>de</strong> (a Joana não está brincando),... Essas informações constituem o fundo<br />
conversacional no qual o proferimento <strong>de</strong> Maria se realiza e ele permite um raciocínio<br />
inferencial como: dada a situação, se a Joana disse que está chovendo é porque ela quer<br />
que eu tire a roupa do varal. Tanto a resposta quanto os atos <strong>de</strong> Maria mostram que ela<br />
enten<strong>de</strong>u o pedido indireto <strong>de</strong> Joana. Esse significado é também lingüístico, porque ele<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do que foi dito na situação, mas ele não é propriamente semântico, porque ele<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> um cálculo inferencial a partir do significado da sentença, este sim objeto da<br />
semântica.<br />
Vejamos uma outra situação. Cláudia é a mãe <strong>de</strong> Pedro que está se preparando<br />
para sair para a escola. Ela nota que ele não está levando nem capa <strong>de</strong> chuva, nem<br />
guarda-chuva e ela sabe que está chovendo. Então, ela profere:<br />
(3) Tá chovendo.<br />
A fala da mãe leva Pedro a pegar o guarda-chuva antes <strong>de</strong> sair. A sentença em (3) diz<br />
exatamente o mesmo que a sentença em (1): no momento em que o falante profere a<br />
sentença é o caso que está chovendo. Mas as inferências mudaram, porque o fundo<br />
conversacional em que se dá a interação lingüística mudou. Nesse caso, os elementos na<br />
situação direcionam um outro raciocínio: Se a minha mãe disse que está chovendo é<br />
porque ela quer que eu leve o guarda-chuva.<br />
Tente imaginar uma outra situação em que o proferimento da sentença ‘Tá<br />
chovendo’ dispare uma outra interpretação inferencial. Eis alguns casos que você po<strong>de</strong><br />
explorar: pedido <strong>de</strong> carona, recusa para ir a algum lugar, convite para ficar em casa...<br />
Assim, mesmo restringindo a noção <strong>de</strong> significado para significado lingüístico<br />
po<strong>de</strong>mos ainda separar dois níveis <strong>de</strong> significado: um que está atrelado ao significado<br />
da sentença, a uma composição estrita do significado das palavras, e outro que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />
do significado da sentença mais informações sobre a situação em que a sentença é<br />
proferida. Essa é a distinção entre o significado da sentença e o significado do falante,<br />
respectivamente. A semântica é o estudo do significado da sentença, enquanto cabe à<br />
pragmática o estudo do significado do falante.<br />
Não é difícil encontrar na literatura a distinção entre significado da sentença e<br />
significado do falante sendo estabelecida através da ausência ou presença do contexto<br />
para o cálculo do significado. Algo como: a semântica estuda o significado fora do<br />
7