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Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

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Um problema difícil, cuja solução ainda não é <strong>de</strong> consenso na literatura, diz<br />

respeito à presença do sintagma quantificado na posição <strong>de</strong> objeto, como exemplificado<br />

abaixo:<br />

(75) João ama toda criança.<br />

Suponha<br />

que (75) seja uma sentença boa em PB . 17 O problema é o seguinte: não<br />

po<strong>de</strong>mos, na análise <strong>de</strong> (75), dizer que o sintagma quantificado se satura com um<br />

predicado<br />

<strong>de</strong> um lugar (uma proprieda<strong>de</strong>) simplesmente porque não é esse o caso, afinal<br />

o sintagma quantificado está na posição <strong>de</strong> argumento interno <strong>de</strong> ‘amar’, um predicado<br />

d e dois lugares! Lembre-se <strong>de</strong> que o quantificador<br />

relaciona dois conjuntos. On<strong>de</strong> estão<br />

os<br />

dois conjuntos em (75)? Há duas soluções na semântica contemporânea para esse<br />

problema; vamos apresentar apenas uma, não apenas porque ela é mais simples, mas<br />

também porque é a mais difundida na literatura atual. 18<br />

Nessa hipótese, mantém-se que o sintagma quantificado dá sempre a mesma<br />

contribuição, isto é, ele sempre se satura com um predicado <strong>de</strong> um lugar. Precisamos,<br />

então, <strong>de</strong> um mecanismo que permita fazer surgir da sentença em (75) um predicado <strong>de</strong><br />

um lugar. A solução é mover o sintagma quantificado para uma posição mais alta do<br />

que a sentença, como se estivéssemos numa estrutura <strong>de</strong> tópico, produzindo algo como:<br />

(76) Toda criança é tal que João ama ela.<br />

Ou, mais formalmente:<br />

(77) Toda criança xi, João ama xi<br />

Não vamos <strong>de</strong>strinchar (77), mas faremos três comentários. O primeiro é que<br />

apelar<br />

para movimento não é uma solução ad hoc, porque precisamos <strong>de</strong> movimento<br />

para explicarmos outros<br />

fenômenos das línguas naturais, por exemplo, os<br />

<strong>de</strong>slocamentos<br />

como ‘A Maria, o João ama’. Em segundo lugar, com (77) é possível<br />

17<br />

Particularmente, (75) parece um tanto estranha. Mas tal estranhamento é, muito provavelmente, <strong>de</strong>vido<br />

à semântica do ‘toda’. Não vamos nos incomodar com isso, porque o problema da interpretação do<br />

sintagma quantificado é o mesmo se substituímos ‘toda criança’ por ‘duas crianças’; então a questão da<br />

aceitabilida<strong>de</strong> específica da sentença (75) é irrelevante para este problema.<br />

18<br />

O leitor interessado na discussão sobre essas duas teorias po<strong>de</strong> consultar Portner (2005) e, <strong>de</strong>pois, Heim<br />

& Kratzer (2002).<br />

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