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Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

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É muito comum ouvir a crítica <strong>de</strong> que usar uma metalinguagem lógico-<br />

matemática é um preciosismo dos semanticistas formais. De fato, esse é um requisito<br />

das ciências contemporâneas que utilizam como metalinguagem a lógica e a<br />

matemática, como um procedimento metodológico que permite construir uma teoria<br />

explícita e, portanto, verificável (e falsificável). A física é sempre um bom exemplo,<br />

pois basta como ela enten<strong>de</strong> os fenômenos da natureza<br />

matematicamente: força é massa<br />

vezes<br />

aceleração. Mas há um outro motivo, um tanto mais misterioso: po<strong>de</strong> ser que a<br />

natureza<br />

seja <strong>de</strong> fato matemática. Po<strong>de</strong> ser que ao traduzirmos a natureza num cálculo<br />

matemático vejamos aspectos <strong>de</strong>la que não seriam <strong>de</strong> outra forma <strong>de</strong>scobertos. Este é o<br />

caso com a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> que os sintagmas quantificados são relações matemáticas: essa<br />

maneira <strong>de</strong> ver um fenômeno das línguas naturais permitiu enten<strong>de</strong>r aspectos que<br />

provavelmente permaneceriam ocultos fora <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> vista. Vamos exemplificar<br />

três aspectos, com o objeto único <strong>de</strong> mostrar que uma <strong>de</strong>scrição formal po<strong>de</strong> ser muito<br />

importante para enten<strong>de</strong>rmos o funcionamento <strong>de</strong> uma língua natural; por isso mesmo,<br />

não vamos nos <strong>de</strong>ter na apresentação formal das relações.<br />

Vamos explorar duas relações matemáticas: a reflexivida<strong>de</strong> e a conversativida<strong>de</strong>.<br />

Uma relação é reflexiva se para todo A, o par pertence a essa relação. O<br />

quantificador ‘todo’ é reflexivo porque o conjunto do domínio está contido no conjunto<br />

do escopo nuclear: ‘todo menino chora’. Para todo x que é menino, esse x também<br />

chora. Já o quantificador ‘algum’ não é reflexivo, porque nem todos os elementos que<br />

pertencem ao domínio do quantificador pertencem também ao escopo nuclear: em<br />

‘algum menino chora’ é o caso que nem todo menino chora.<br />

‘Nenhum’ é irreflexivo,<br />

porque para todo A é o caso que o par não pertence à relação. Agora veja que<br />

curioso:<br />

(71) a. * Tem todo menino no jardim.<br />

b. Tem algum menino no jardim.<br />

c. Não tem nenhum menino no jardim.<br />

Sempre que o quantificador for reflexivo ele vai ser agramatical em sentenças<br />

existenciais.<br />

De alguma forma, sabemos que a regra para inclusão em contextos<br />

existenciais é não ser reflexivo.<br />

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