Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

Considere, para iniciarmos nossa análise, a sentença em (57), ‘todo menino
ronca’. O predicado ‘ronca’ pede um indivíduo para se tornar saturado. Os nomes
próprios, as descrições definidas e os pronomes, singulares ou plurais, referem-se a
indivíduos e são, portanto, candidatos naturais a preencherem a lacuna de ‘roncar’.
Contudo, em (57) a lacuna do predicado é preenchida por um sintagma quantificado
‘todo menino’, que não se refere a um indivíduo. Temos, portanto, um problema de
combinação: como vamos combinar ‘ronca’, que pede um indivíduo, e ‘todo menino’,
que não se refere a um indivíduo? Como vamos fazer para compor esses dois sintagmas
se eles não se combinam? Como compor essas duas expressões? Seguindo mais uma
vez uma sugestão de Frege, que nos ensinou a olhar para o sintagma quantificado por
um viés que permite resolver nosso problema: um sintagma quantificado não é um
argumento, mas um predicado de segunda ordem, um predicado que pede outro
predicado para se saturar. Antes víamos o predicado ‘ronca’ como sendo insaturado e
pedindo um indivíduo para a sua saturação. Agora, vamos inverter a direção do olhar: é
o sintagma quantificado, ‘todo menino’, que é uma estrutura insaturada; essa estrutura
pede um predicado para ser saturado.
O sintagma quantificado é, pois, uma estrutura faltante que pede um outro
predicado para ser preenchida:
Qualquer menino ______
Veja abaixo algumas possibilidades de preenchimento dessa lacuna:
todo menino
brinca
chora
faz arte
canta
joga bola
se esconde
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