Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

A conclusão é que um sintagma quantificado não se refere a um indivíduo. A
que, então, ele se refere?
É muito comum a idéia de que ele se refere a um conjunto, em especial se
consideramos o sintagma ‘todo menino’. A resposta intuitiva é: ‘todo menino’ se refere
ao conjunto de meninos, mas ela nos leva a um beco sem saída. Por esse raciocínio
temos que dizer que o sintagma ‘nenhum menino’ se refere ao conjunto vazio,
representado por ∅. Você pode não ter notado, mas estamos utilizando, intuitivamente,
a teoria de conjuntos para descrever o processo de interpretação de uma sentença. Por
exemplo, na descrição da interpretação de ‘João saiu’ chegamos ao resultado que ela é
verdadeira se e somente se João pertence ao conjunto dos que saíram. Nesse quadro, a
sentença:
(66) Nenhum menino saiu.
É verdadeira se o conjunto ∅ está contido no conjunto dos que saíram. Mas isso é uma
trivialidade, dado que ele está sempre contido em qualquer conjunto (você deve se
lembrar que o conjunto vazio está contido em todos os conjuntos). No entanto, a
sentença em (66) não é trivial. Essa descrição não consegue, tampouco, fazer jus a nossa
intuição. Ao usarmos (66) não estamos dizendo que o conjunto vazio saiu. Finalmente,
se adotarmos essa descrição, chegamos a resultados inadequados. Considere, por
exemplo, as sentenças:
(67) Nenhum menino saiu rápido.
(68) Nenhum menino saiu.
‘saiu rápido’ é um subconjunto de ‘saiu’. Se em (67) dizemos que o conjunto vazio está
contido no conjunto ‘saiu rápido’, então, necessariamente, ele está contido no
superconjunto ‘saiu’. Mas se é assim, então a sentença em (67) acarreta a sentença em
(68), o que vai contra a nossa intuição, porque ela nos diz que (67) pode ser verdadeira e
(68) falsa; logo, não há relação de acarretamento.
A conclusão é que o sintagma quantificado não se refere nem a um indivíduo
nem a um conjunto! A que, então, ele se refere?
4.2 Quantificadores Generalizados
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