Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

(48) Os meninos roncam.
Faz pouco tempo que a semântica lingüística conseguiu entender minimamente o plural.
O trabalho mais relevante nesta área é Link (1983), um texto muito pouco legível para
os não iniciados, embora sua proposta seja de interpretação bem fácil. 16 Link põe em
funcionamento duas idéias: a idéia de que os conjuntos de indivíduos são organizados
internamente e a idéia, pouco intuitiva, de que podemos tratar um sintagma como ‘os
meninos’ como se referindo a um tipo particular de indivíduo, um indivíduo plural. Sua
proposta parte, então, da hipótese de que os indivíduos, que constituem o conjunto
denotado pelo nome comum ‘menino’, estão organizados internamente de uma maneira
que é relevante para a interpretação. Os indivíduos se organizam através de uma
operação de “soma” mereológica que gera indivíduos de outros indivíduos. Vejamos
como funciona esse modelo. Um nome comum como ‘menino’ refere-se, num certo
mundo, a um conjunto de indivíduos. Vamos representar esses indivíduos utilizando
letras minúsculas. Assim, a, b e c são os meninos que constituem a denotação de
‘menino’, e [[ ]] é a função de interpretação que faz a ponte entre a linguagem e o
mundo:
[[menino]] = { a , b , c }
Até aqui não há nada de novo.
Link introduz a idéia de que a partir do conjunto de meninos e através de uma
operação de soma, representada por ⊕, construímos “indivíduos plurais” de indivíduos
singulares. A idéia é que se temos João e Pedro podemos somá-los num indivíduo
João⊕Pedro. Atenção, João⊕Pedro é um indivíduo, um indivíduo constituído de outros
indivíduos. Considerando o conjunto ‘menino’ acima, podemos construir os seguintes
indivíduos plurais: a ⊕ b, b ⊕ c, a ⊕ c, a ⊕ b ⊕ c. Este último é o indivíduo formado
por todos os indivíduos atômicos. Os indivíduos atômicos são aqueles que não podem
mais ser “divididos”, sem que deixemos de ter partes do conjunto ‘menino’. Nessa
perspectiva, a referência do nome comum plural, ‘meninos’ é o conjunto de todas as
somas geradas a partir dos indivíduos singulares (menos os indivíduos atômicos), isto é,
no nosso exemplo:
16 Uma introdução muito correta e acessível às idéias de Link é Wachowicz (1997).
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