Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina
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usseliana, a sentença em (28), proferida na situação <strong>de</strong>scrita, é falsa, precisamente<br />
porque não há nenhum rei da França.<br />
Os julgamentos intuitivos divergem quanto à avaliação do valor <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
uma sentença em que a DD não se refere a um indivíduo, embora todos concor<strong>de</strong>m que<br />
a sentença certamente não é verda<strong>de</strong>ira. Alguns falantes têm a sensação <strong>de</strong> que ela é<br />
falsa, é essa a intuição em Russell, outros, mais próximos da intuição <strong>de</strong> Frege, dizem<br />
que não é possível atribuir um valor <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> a esta sentença porque não po<strong>de</strong>mos<br />
predicar (mesmo que negativamente) sobre algo que não existe. Neste caso, ela não é<br />
nem verda<strong>de</strong>ira nem falsa. Logo, não é possível apelarmos para a intuição do falante<br />
para <strong>de</strong>finirmos qual é a melhor teoria para a DD. Mas, acreditamos que há sim<br />
argumentos favoráveis à teoria fregeana. Em particular, o fato <strong>de</strong> que a pressuposição se<br />
mantém quando operamos sobre a sentença é uma indicação <strong>de</strong> que seu estatuto é<br />
pressuposicional.<br />
3.2 A Pressuposição<br />
Vejamos mais um exemplo.<br />
(36) O menino caiu.<br />
Segundo o mo<strong>de</strong>lo fregeano, uma DD dispara uma pressuposição que restringe os<br />
contextos em que a sentença é usada a<strong>de</strong>quadamente. A DD presente em (36) pressupõe<br />
que há um único menino saliente no contexto; em outros termos só po<strong>de</strong>mos usar com<br />
felicida<strong>de</strong> a sentença em (36) se a pressuposição for verda<strong>de</strong>ira, isto é se houver um<br />
único menino saliente no contexto. Nessa teoria se negarmos a sentença, continua a ser<br />
verda<strong>de</strong>iro que há um menino saliente no contexto:<br />
(37) O menino não caiu.<br />
Intuitivamente, a sentença em (37) pressupõe que há um e apenas um menino saliente<br />
no contexto; o que ela nega é a informação posta, ou seja, que esse menino caiu. Não<br />
parece ser possível atribuir a (37) a interpretação <strong>de</strong> que não há um menino em<br />
particular, como prevê a teoria <strong>de</strong> Russell. Se esta é a nossa intuição, então temos um<br />
argumento a favor da teoria <strong>de</strong> Frege, o mo<strong>de</strong>lo que iremos assumir.<br />
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