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Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

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(30) Kepler não morreu na miséria.<br />

Novamente, se a pressuposição <strong>de</strong> que há um único indivíduo Kepler fizesse parte do<br />

sentido da sentença, então a sentença em (30) <strong>de</strong>veria significar ou que Kepler não<br />

existiu ou que ele não morreu na miséria, porque a negação po<strong>de</strong>ria, nesse caso, atuar<br />

nesses dois lugares. Como ela não tem esses dois sentidos – intuitivamente ela só<br />

significa que Kepler não morreu na miséria –, a pressuposição não faz parte do sentido<br />

da sentença. É, portanto, uma condição <strong>de</strong> uso a<strong>de</strong>quado da expressão. Em outros<br />

termos, ninguém usa a<strong>de</strong>quadamente a sentença em (30) se não acredita que Kepler é o<br />

nome <strong>de</strong> um indivíduo em particular. Perceba como é estranho alguém proferir (30) se é<br />

senso comum que Kepler não existe...<br />

Vamos retornar a sentença (27) em seus usos “estranhos”. O que acontece, na<br />

visão <strong>de</strong> Frege, se essa sentença é usada quando a DD po<strong>de</strong> estar se referindo a dois<br />

indivíduos, o João e o Pedro? Simplesmente não po<strong>de</strong>mos afirmar que ela é verda<strong>de</strong>ira<br />

ou que ela é falsa, porque não conseguimos i<strong>de</strong>ntificar o referente. Sem sabermos <strong>de</strong><br />

quem o falante está falando não é possível afirmar que o predicado se aplica ou que ele<br />

não se aplica. O mesmo raciocínio vale para o caso em que não há referente para a DD.<br />

Se a DD não tem referente, se a Maria não tem filho, como afirmar que ele estuda ou<br />

que ele não estuda lingüística? A sentença não é nem verda<strong>de</strong>ira nem falsa; carece <strong>de</strong><br />

valor <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>.<br />

A maneira <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r essa problemática posta pelas DDs proposta por Russell,<br />

em seu famoso texto chamado “On Denoting” (1905), se afasta da visão semântica da<br />

pressuposição. Russell enten<strong>de</strong> que a existência e a unicida<strong>de</strong> são partes do conteúdo<br />

semântico da DD. Consi<strong>de</strong>re a famosa sentença <strong>de</strong> Russell:<br />

(31) O rei da França é careca.<br />

A forma lógica que ele propõe para essa sentença é a seguinte (em linguagem natural):<br />

(32) Existe um e apenas um rei da França e ele é careca.<br />

Compare com a proposta <strong>de</strong> Frege, em que a DD refere-se a um indivíduo e a<br />

informação <strong>de</strong> que esse indivíduo existe e é único é dada pelo contexto: na proposta<br />

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