Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina
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DD. A diferença entre pressupor que exista tal indivíduo e afirmar a sua existência<br />
produz resultados distintos, em particular com relação à negação.<br />
3.1 A DD em Frege e em Russell<br />
Frege introduziu essa questão discutindo o seguinte exemplo:<br />
(28) Quem <strong>de</strong>scobriu a órbita circular dos planetas morreu na miséria<br />
Note que a expressão ‘quem <strong>de</strong>scobriu a órbita circular dos planetas’ é uma oração<br />
relativa que se refere a um único indivíduo no mundo, no caso o astrônomo Johannes<br />
Kepler. Po<strong>de</strong>mos facilmente transformar a oração relativa numa DD: ‘o <strong>de</strong>scobridor da<br />
órbita circular’, que, como já sabemos, se refere a um único indivíduo. A questão é: a<br />
existência <strong>de</strong>sse único indivíduo é veiculada semanticamente pelo sintagma nominal,<br />
isto é, ela faz parte do conteúdo semântico do sintagma, ou ela é pressuposta? Frege<br />
afirma que ela é pressuposta, isto é, a informação <strong>de</strong> que há um único indivíduo que tem<br />
a proprieda<strong>de</strong> em questão faz parte do contexto.Se assim for, uma DD só é a<strong>de</strong>quada se<br />
proferida num contexto em que a pressuposição é verda<strong>de</strong>ira; por isso diz-se que a<br />
pressuposição restringe os usos a<strong>de</strong>quados <strong>de</strong> uma dada expressão. Em outros termos,<br />
só po<strong>de</strong>mos usar uma DD com felicida<strong>de</strong> em contextos em que a pressuposição está<br />
satisfeita – somente nesses contextos temos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atribuir a ela uma valor<br />
<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>. Assim, (28) só é feliz se (29) é consi<strong>de</strong>rada como verda<strong>de</strong>ira pelos<br />
interlocutores, isto é, se ela é parte do fundo conversacional compartilhado:<br />
(29) Existe uma única pessoa que <strong>de</strong>scobriu a órbita circular dos planetas.<br />
Para <strong>de</strong>monstrar que a pressuposição não é semântica, isto é, que ela não faz<br />
parte do sentido da sentença, Frege argumenta que a negação <strong>de</strong> uma sentença com<br />
pressuposição não é ambígua. Se a pressuposição fosse semântica, a sentença na<br />
negativa <strong>de</strong>veria ter duas interpretações diferentes; ou (i) a negação incidiria sobre a<br />
parte da sentença que diz que existe um único indivíduo que <strong>de</strong>scobriu a órbita circular<br />
dos planetas, ou (ii) a negação incidiria sobre a parte da sentença que diz que quem<br />
<strong>de</strong>scobriu a órbita circular dos planetas não morreu na miséria. Mas, diz Frege, este não<br />
é o caso. Vejamos um exemplo:<br />
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