12.04.2013 Views

Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Na primeira situação, a variável é preenchida por um apontamento na situação<br />

<strong>de</strong> enunciação. Trata-se <strong>de</strong> um caso <strong>de</strong> ostensão, <strong>de</strong> dêixis. Já na segunda situação,<br />

sabemos que ‘ele’ se refere a João porque sua interpretação está ligada ao nome próprio<br />

‘João’, dito imediatamente antes.<br />

Embora a distinção entre dêixis e anáfora seja já tradicional na lingüística, os<br />

mo<strong>de</strong>los semânticos mais recentes a abandonaram, pois consi<strong>de</strong>ram que não há <strong>de</strong> fato<br />

uma diferença qualitativa, entre dêixis e anáfora, na forma <strong>de</strong> atribuir um valor a<br />

variável, já que po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r a situação <strong>de</strong> fala, o contexto, como uma série <strong>de</strong><br />

informações compartilhadas, um fundo conversacional, que é lingüístico. Essa é, na<br />

verda<strong>de</strong>, a única maneira <strong>de</strong> explicarmos que atribuímos um valor a uma variável em<br />

situações <strong>de</strong> fala em que o referente não po<strong>de</strong> ser ostensivamente apontado porque não<br />

está presente, e ele não foi introduzido no discurso anteriormente. Imagine que estamos<br />

num bar e um moço bêbado insiste em cantar muito alto. Suponha ainda que ninguém<br />

falou explicitamente sobre o assunto. De repente, o sujeito se levanta e vai embora e<br />

alguém da nossa mesa diz:<br />

(16) Ainda bem que ele saiu!<br />

Sabemos que ‘ele’ se refere ao sujeito bêbado, mas não houve apontamento nem<br />

falamos sobre ele antes.<br />

A semântica atual distingue tipos <strong>de</strong> anáfora, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do modo como ocorre<br />

a atribuição <strong>de</strong> valor à variável. Nos exemplos discutidos até o momento, essa<br />

atribuição seguiu sempre o mesmo método: atribua como valor para a variável o<br />

indivíduo que está mais saliente, quer porque ele está saliente via apontamento, via<br />

situação no mundo, ou via discurso (quando se fez referência discursiva a ele<br />

imediatamente antes). Esses são exemplos <strong>de</strong> pronome livre ou anáfora livre. No<br />

pronome livre o valor da variável é dado por uma função <strong>de</strong> interpretação que é sensível<br />

ao contexto. No módulo anterior, vimos a noção <strong>de</strong> função <strong>de</strong> interpretação, que é uma<br />

função que atribui a cada expressão da língua uma referência. Ela é constante para os<br />

nomes próprios, porque eles têm sempre a mesma referência. Mas esse não é o caso dos<br />

pronomes livres que, como vimos, têm referência variável: na situação 1, ‘ele’ se refere<br />

40

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!