Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina
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consi<strong>de</strong>rando, porque vai ser sempre o caso que a sentença em (25) é verda<strong>de</strong>ira, por<br />
isso ela não é informativa. Note que em (25) se estabelece uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre o<br />
mesmo nome próprio. Um outro exemplo seria: ‘O João é o João’. 6<br />
Na sentença em (26) se estabelece uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre nomes diferentes; como<br />
em ‘O João é o João Paulo’. Nesse caso, temos uma sentença informativa: suponha que<br />
você sabe quem é o João, mas não sabe quem é o João Paulo; ao ouvir que ‘O João é o<br />
João Paulo’ você apren<strong>de</strong>u algo novo, que o João têm dois nomes: ‘João’ e ‘João<br />
Paulo’. É claro que a verda<strong>de</strong> (ou a falsida<strong>de</strong>) da sentença em (26) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> como o<br />
mundo é. Não é necessário que o João tenha os nomes ‘João’ e ‘João Paulo’; há vários<br />
mundos em que isso não ocorre. O mesmo se aplica a sentença em (26): que ‘Estrela da<br />
Manhã’ e ‘Estrela da Tar<strong>de</strong>’ sejam dois nomes para um mesmo objeto no mundo é algo<br />
contingente (e não necessário). Há muitos mundos em que esses dois nomes referem-se<br />
a objetos diferentes. Sentenças como (26) são sintéticas, precisamente porque sua<br />
verda<strong>de</strong> ou falsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> como o mundo é. No nosso mundo, a sentença em (26)<br />
é verda<strong>de</strong>ira.<br />
A teoria clássica <strong>de</strong> significado, a qual Frege se contrapôs, entendia que o<br />
significado <strong>de</strong> uma expressão era o objeto no mundo. Assim, o significado <strong>de</strong> ‘Estrela<br />
da manhã’ é o objeto no mundo, no caso o planeta Vênus. Mas se for esse o caso, como<br />
é que diferenciamos (25) e (26)? Se ambas são verda<strong>de</strong>iras, então elas se referem ao<br />
mesmo “objeto”. Se este é o caso, como é que percebemos que elas são diferentes?<br />
Como é que sabemos que ‘Estrela da Manhã’ e ‘Estrela da Tar<strong>de</strong>’ são dois nomes<br />
diferentes se o significado é objeto no mundo? Não há como. A solução proposta por<br />
Frege é distinguir aspectos do termo significado: quando sabemos o significado <strong>de</strong> uma<br />
sentença sabemos duas “coisas”: a que objeto ela se refere e o sentido da expressão, isto<br />
é o pensamento que está associado àquela expressão. O que diferencia (25) e (26) é o<br />
fato <strong>de</strong> que seu sentido é diferente; o pensamento que elas veiculam não é o mesmo,<br />
embora elas se refiram ao mesmo objeto.<br />
Frege mostrou, então, que a noção <strong>de</strong> significado comporta duas “facetas”,<br />
ambas objetivas, porque <strong>de</strong> domínio público: o sentido e a referência 7 . A referência é o<br />
6 Mais uma vez, proferir uma sentença analítica, que é obviamente verda<strong>de</strong>ira, provoca imediatamente<br />
uma implicatura. Se o falante está dizendo algo que é trivialmente verda<strong>de</strong>iro, e ele é cooperativo, então é<br />
porque ele está querendo dizer outra coisa. Por exemplo, no caso <strong>de</strong> ‘O João é o João’, que o ouvinte<br />
conhece o João e sabe que ele tem uma proprieda<strong>de</strong> muito acentuada, por exemplo, ele é extremamente<br />
meticuloso.<br />
7 De passagem, Frege distingue outros aspectos do significado, em particular a representação e a cor, mas<br />
nenhum <strong>de</strong>les é objetivo, por isso não interessam à semântica.<br />
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