Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina
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(17) O gato azul está <strong>de</strong> ponta-cabeça.<br />
Essa sentença é verda<strong>de</strong>ira em todos os mundos em que há um único gato saliente no<br />
contexto e esse gato é azul e ele está <strong>de</strong> ponta-cabeça. Não temos problema algum para<br />
interpretá-la, porque conhecemos o significado <strong>de</strong> cada um dos termos que a compõem.<br />
Chomsky (1957, Syntactic Structures) foi um dos primeiro, na lingüística, a<br />
chamar atenção para o fato <strong>de</strong> que os falantes são criativos, porque produzem e<br />
interpretam sentenças que nunca ouviram antes. Este fato, aparentemente tão trivial,<br />
refutou tanto as teorias comportamentais da aprendizagem (que acreditam que as<br />
línguas humanas são aprendidas por estímulo e resposta) quanto as teorias<br />
estruturalistas sobre a linguagem humana (que entendiam que a linguagem era um<br />
conjunto “fechado” <strong>de</strong> sentenças). Chomsky mostra que a linguagem é aberta, infinita,<br />
in<strong>de</strong>terminada, mas previsível no sentido <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>mos “calcular” o novo, porque<br />
sabemos “construir” sentenças a partir do significado <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s mínimas (átomos) e<br />
regras <strong>de</strong> combinação, que são recursivas, isto é, se aplicam reiteradamente, em<br />
diferentes situações.<br />
Em (1), combinamos o significado <strong>de</strong> ‘chov(e)-` com o significado do<br />
progressivo, através <strong>de</strong> uma regra que permite combinar radicais verbais com a perífrase<br />
do progressivo, ‘estar –ndo’. Essa regra <strong>de</strong> combinação é a mesma que recorre em<br />
inúmeras outras sentenças da língua (como em ‘está nevando’, ‘está chuviscando’, ‘está<br />
amando’, ‘está falando’...).<br />
Evi<strong>de</strong>ntemente, um dos problemas que o semanticista enfrenta é <strong>de</strong>terminar<br />
quais são as unida<strong>de</strong>s mínimas e como elas são adquiridas pelo falante. A <strong>de</strong>terminação<br />
das unida<strong>de</strong>s mínimas para constituir o léxico <strong>de</strong> uma língua é uma tarefa bastante<br />
complexa e que se dá na interface com a morfologia. Consi<strong>de</strong>re, por exemplo, a<br />
sentença:<br />
(18) O João saiu apressado.<br />
Certamente, o léxico <strong>de</strong>ve conter um item para sair, uma raiz como ‘sa(i)-`, que se<br />
combina com diferentes flexões, cada uma <strong>de</strong>las conglomerando significados: ‘-u’<br />
indica 3 pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo. Compare com:<br />
(19) O João saia apressado.<br />
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