Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina

Se o falante entende a sentença em (1), ele sabe o significado de ‘estar’ e ‘chovendo’ e,
na verdade, sabe que ‘chovendo’ se decompõe em ‘chov(e)-` e ‘-ndo’. Sabe ainda que
essas “unidades” mantêm o mesmo significado em infinitas sentenças em que elas
podem ocorrer. Por exemplo, veja que ‘chov(e)-` dá a mesma contribuição nos
diferentes contextos em que aparece 4 :
(16) a. Vai chover.
b. Choveu ontem.
c. Poderia chover.
Sabe ainda qual é a contribuição do progressivo, representado em (1) pela
perífrase verbal ‘estar V+ndo’ (‘estou cantando’, ‘está falando’). Ele sabe que no
contexto em que (1) é proferida, a perífrase indica progressividade, isto é, o evento
descrito, o evento de chuva, está ocorrendo simultaneamente ao momento de fala, como
aparece no esquema abaixo,
momento de fala
chove
Podemos entender que a composicionalidade expressa o fato de que um falante
sabe compor o significado de uma sentença a partir do significado de partes mínimas,
isto é, o significado de uma expressão mais complexa é o resultado de uma composição
de suas partes. No caso de (1), o falante “soma” o significado de ‘chov(e)-` mais o
significado da perífrase ‘estar + -ndo’.
A composicionalidade explica a criatividade, a capacidade de estarmos a todo
instante construindo e interpretando sentenças que nunca ouvimos antes. É muito
provável que nenhum de vocês encontrou antes a sentença abaixo, mas nenhum de nós
tem qualquer problema em interpretá-la, isto é, todos nós sabemos em que mundos ela é
verdadeira:
4
De passagem, um falante também sabe que o significado de chover está relacionado com chuva, entre
outros.
16