Semântica - CCE - Universidade Federal de Santa Catarina
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o verda<strong>de</strong>iro e o falso. Por exemplo, po<strong>de</strong>mos dizer precisamente em que condições a<br />
sentença em (10) po<strong>de</strong> ser verda<strong>de</strong>ira (suas condições <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>) sem que possamos<br />
verificar se ela <strong>de</strong> fato é verda<strong>de</strong>ira:<br />
(10) Tem 531 insetos no meu jardim neste momento.<br />
A semântica não lida com o uso da sentença, mas com a sentença em sua potencialida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> uso.<br />
As condições <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> expressam o conhecimento mínimo que um falante tem<br />
quando ele sabe o que a sentença significa: o potencial <strong>de</strong> usa <strong>de</strong>ssa sentença. O mínimo<br />
que ele sabe, se ele enten<strong>de</strong> uma sentença, é separar o mundo em dois blocos: <strong>de</strong> um<br />
lado, as situações em que a sentença é verda<strong>de</strong>ira; <strong>de</strong> outro, aquelas em que ela é falsa.<br />
Ao ouvir a sentença em (1), ‘tá chovendo’, um falante do PB <strong>de</strong>limita dois “esboços” <strong>de</strong><br />
mundo:<br />
não (tá chovendo) – (1) é falsa tá chovendo – (1) é verda<strong>de</strong>ira<br />
<br />
<br />
<br />
O falante sabe que a sentença em (1) é falsa nos mundos à direita do quadro; e é<br />
verda<strong>de</strong>ira nos mundos à esquerda. É nesse sentido que uma sentença <strong>de</strong>senha um<br />
esboço <strong>de</strong> como o mundo <strong>de</strong>ve ser para que ela seja verda<strong>de</strong>ira, o que significa que ela<br />
também <strong>de</strong>senha os mundos em que é falsa. Assim, uma sentença estabelece uma<br />
relação entre linguagem e estados <strong>de</strong> mundo (ou mundos), 2 <strong>de</strong>ixando espaço para muita<br />
vagueza e in<strong>de</strong>terminação, dois fenômenos semânticos bem interessantes.<br />
O significado <strong>de</strong> uma sentença é sempre (e necessariamente) in<strong>de</strong>terminado,<br />
precisamente porque ele recobre inúmeras situações (no nosso exemplo, situações em<br />
que está uma chuva fraca, chuva com sol, chuva forte, chuvinha,...). A in<strong>de</strong>terminação<br />
<strong>de</strong>ve ser distinguida da vagueza, o fato <strong>de</strong> que muitas vezes não temos certeza se a<br />
sentença é verda<strong>de</strong>ira ou não em uma dada situação. Por exemplo, se no momento em<br />
2<br />
Ao dissermos isso estamos assumindo, sem discutir, uma vertente referencial do significado. Mais sobre<br />
o tema ao longo <strong>de</strong>ste manual.<br />
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