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Antônio Luiz Vieira - ICHS/UFOP

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“O exercício da razão nobilita o homem; o bálsamo da crença e o<br />

consolo da fé o tornam comparável ao vadio que mendiga para não<br />

trabalhar.” 17<br />

A grande receptividade da poesia parnasiana (com sua exatidão cartesiana) entre os<br />

anarquistas, bem como o distanciamento que os mesmos assumiram em relação ao<br />

movimento modernista de 22, e toda a renovação estética que mesmo anunciava, também<br />

pode ser denotativo, de certa forma, de uma resistência ao afastamento de uma estética<br />

racionalista.<br />

A intensa mobilização em todos os círculos anarquistas no Brasil, em prol de uma<br />

“educação racional”, também é ilustrativo dessa razão messiânica que anima o universo<br />

mental dos anarquistas. Indiscutivelmente, a proposta pedagógica de um ensino racional,<br />

elaborada por F. Ferrer 18 , no final do século XIX, adotada e amplamente difundida entre os<br />

anarquistas brasileiros, teoricamente estava muito adiante do ensino que se encontrava<br />

instituído e que, nem de longe, era capaz de atender à maioria da população das classes<br />

populares.<br />

As várias moções discutidas e que configuraram as Resoluções Sobre a Educação<br />

aprovadas no Segundo Congresso Operário Brasileiro, em 1913, bem como o grande<br />

número de artigos publicados na imprensa operária, em todo o período, definem muito bem<br />

os referenciais teóricos da Escola Racionalista 19 . Apenas para ilustrar, entre os inúmeros<br />

congêneres, citaremos algumas passagens do plano que os fundadores de uma Escola<br />

Moderna em Porto Alegre publicaram n’A Lanterna em 1914. Nele há uma clara<br />

visibilidade das estratégias que visam operar por métodos racionais à disciplina tanto do<br />

corpo (“indivíduo-matéria”), a “educação dos sentidos”, quanto do espírito (“indivíduointeligência”),<br />

a “educação intelectual”, mas também a preparação ética para o trabalho:<br />

“(...) Tudo é solidário na obra universal. O indivíduo-matéria<br />

e o indivíduo-inteligência se completam por meio do conjunto<br />

universal, da mesma forma porque este se completa por meio<br />

do indivíduo.<br />

(...) Subordinando-se a esses princípios e às lições dos<br />

mestres que definem a Razão como a máxima potência<br />

intelectual, a luz que guia o espírito humano nas concepções<br />

cósmicas até ao Infinito e o Absoluto, a Escola de Ensino<br />

Racional assume de educadora dos sentidos e das forças<br />

intelectuais.<br />

(...) Sob o ponto de vista social o Racionalismo que se<br />

procura pôr em prática coloca em primeiro plano o trabalho<br />

para evitar os inconvenientes de avolumar, de futuro, já não o<br />

proletariado oprimido, mas a multidão de vadios escravos da<br />

fome e naturais inimigos da sociedade” 20<br />

17 MOTA, Benjamin. Rebeldias. SP: Typographia Brasil, 1890.<br />

18 GUARDIA, Francisco Ferrer. La escuela moderna. Madrid: Ediciones Jucar, 1976.<br />

19 Ver A Voz do Trabalhador. Ano VI, 1º de Outubro de 1913, Nº s 39-40.<br />

20 A Lanterna. São Paulo, 02/01/1915. Apud. RODRIGUES, E. O Anarquismo – na escola, no teatro, na<br />

poesia. RJ: Achiamé, 1992, pp. 56,57.

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