12.04.2013 Views

Antônio Luiz Vieira - ICHS/UFOP

Antônio Luiz Vieira - ICHS/UFOP

Antônio Luiz Vieira - ICHS/UFOP

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

lembrava que os mesmos (os alemães), além de terem demonstrado progresso nas ciências,<br />

ainda tinham homens do pensamento como “um certo Schiller”, ou “um certo Goethe”, ao<br />

que o herói niilista retruca certeiro: “um bom químico é vinte vezes mais útil que qualquer<br />

poeta” 4 . Diante da Natureza, a mesma lógica instrumental: “a própria Natureza nada tem<br />

de interessante... não é um templo e sim uma oficina em que o homem trabalha” 5 .<br />

Durante todo o tempo, o discurso do heroi niilista movimenta-se no curto circuito de<br />

uma lógica que reduz à inutilidade toda e qualquer arte, assim como inútil e absurdo se lhe<br />

afigurava o amor. A Natureza torna-se matéria a ser quantificada pela linguagem exata do<br />

pensamento lógico, e esmigalhada pela produtividade técnica do trabalho. No centro da<br />

ação, um Eu-máquina que proclama sua Era no auto-elogio da ausência de conflito<br />

interior...<br />

Em nossa opinião, a força afirmativa que anima esse discurso niilista no sentido da<br />

auto-desciplina e de uma total racionalização do pensamento, tanto quanto o discurso<br />

anarquista, que se configurou no Brasil, no contexto delimitado, é estruturada pelos<br />

mesmos mecanismos de produção de saberes constitutivos do “campo epistemológico”, que<br />

a ordem burguesa emergente engendra e mobiliza contra a ordem tradicional em declínio,<br />

tanto lá quanto aqui.<br />

Em nosso caso, o universo mental em que gravitam as elites intelectuais, no<br />

contexto da virada do século XIX para o século XX, é estruturado pelo positivismo<br />

racionalista e cientificista: nas ciências sociais, ou nas ciências médicas, nos meios<br />

militares, ou entre os políticos, nos círculos intelectuais e literários, Augusto Comte era<br />

fundamento teórico e doutrinário às práticas de produção de conhecimentos.<br />

De Sílvio Romero a Euclides da Cunha, de Olavo Bilac a Monteiro Lobato, um<br />

catálogo de nomes confirmaria a extensão enciclopédica da produção de discursos e de<br />

saberes que se movimenta sob a força estruturante do racionalismo cientificista, e cujo<br />

marco originário indicativo da densidade ideológica dessa configuração intelectual,<br />

encontra-se naquilo que foi denominado por “Geração de 70” 6 .<br />

A conjuntura do programa da Regeneração, que empreendeu à reforma urbana e<br />

sanitária do Rio de Janeiro, no governo de Rodrigues Alves, serve de paradigma para<br />

indicar os impactos sociais dessa mentalidade emergente amalgamada pelo pensamento<br />

positivo e cientificista. Investidos por uma vontade ecumênica de soterrar o passado, os<br />

reformadores querem dele separar-se pelo ato demiúrgico da criação de um novo homem e<br />

de um novo mundo:<br />

“Hoje, os nossos ideais são, de fato, os verdadeiros e<br />

os únicos materiais para a prodigiosa construção da<br />

civilização pátria – nós, os operários do futuro, e que<br />

devemos em breve atirar na ação toda a fortaleza de<br />

4<br />

TURGUÉNIEV, Ivan. Pais e filhos. SP: Abril Cultural, 1971, p. 36.<br />

5<br />

Id. Ibid., p.56.<br />

6<br />

Uma análise contextualizada dessa geração de intelectuais, encontramos em SEVCENKO, Nicolau.<br />

Literatura como missão. SP: Brasiliense, 1989, especialmente, cap.II – O exercício intelectual como atitude<br />

política: os escritores-cidadãos. Também, PAIM, <strong>Antônio</strong>. História das idéias filosóficas no Brasil. SP:<br />

Grijalbo, 1967, ver A mentalidade positivista, pp.192-239.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!