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Antônio Luiz Vieira - ICHS/UFOP

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propriedade, ao Estado, à religião, etc., articulando toda a análise com o conceito de<br />

energia, através de oposições como uso racional das energias / desperdício, sempre tendo<br />

em meta que a equação uso ótimo das energias / desperdício mínimo, só poderá verificar-se<br />

com a supressão do trabalho assalariado, da propriedade, do Estado, da forma de<br />

casamento, etc. O autor define as energias humanas como sendo de cinco espécies: físicas,<br />

intelectuais, morais, práticas e sociais. Na análise de cada uma, vai construindo inferências<br />

que indicam o bloqueio existente na sociedade capitalista para o livre desenvolvimento das<br />

mesmas. No andamento da análise, vai se definindo cada vez mais claramente uma visão do<br />

espaço social tanto quanto do corpo, como sistemas que produzem energias, usam-nas, e as<br />

poupam, por formas variadas consoante o maior ou menor desenvolvimento havido do<br />

potencial das energias humanas. Um corpo bem alimentado e saudável, higienizado e<br />

limpo, disciplinado pela ginástica, comandado por um intelecto bem formado, e por uma<br />

sólida moralidade: eis a representação do corpo como máquina energética, uma máquina de<br />

produtividade em todos os sentidos.<br />

Para configurar os termos do discurso, cito o Catecismo, pela precisão da imagem.<br />

Após considerações sobre o universo e a terra, a partir dos conceitos de energia e trabalho,<br />

e das formas de transformação dessas duas categorias, o Catecismo responde à pergunta:<br />

“- E o homem que representa?<br />

O homem é um aparelho em que se passam essas transformações<br />

sob a aparência de vida”.<br />

E mais adiante, a resposta se completa,<br />

“- (...) de modo que, em última análise, o homem é um<br />

transformador de calor solar acumulado em calor vital que se<br />

perde. Esse princípio geral foi descoberto por Sadi Carnot em<br />

princípio do século XIX.”<br />

O Catecismo continua o seu diálogo e procura indicar o caminho “científico” e<br />

“exato” para a solução dos problemas morais,<br />

“- Pode então definir a vida humana?<br />

É um equilíbrio instável de energias de tipo superior no organismo<br />

do homem e cujo fim é um desprendimento de calor inaproveitável.<br />

Essa noção esclarece o problema social?<br />

É a chave segura da sua solução. Até agora as soluções tem se<br />

baseado em hipóteses mais ou menos fantasiosas. A religião por<br />

exemplo (...)<br />

Um problema tão importante como este deve assentar numa noção<br />

exata, num princípio universal do qual dependa diretamente e<br />

necessariamente todos os atos humanos. Essa noção, como<br />

veremos, nos fornece a definição precisa e científica do bem e do<br />

mal e portanto da moral, o que até hoje não foi feito.” 24<br />

A correlação dessas imagens com as representações produzidas pelos discursos dos<br />

saberes agenciados pelo poder e que operam como dispositivos estratégicos de<br />

normatização social e irradiação de práticas, nos parece por demais estreita.<br />

Contra o racionalismo cientificista da intelectualidade orgânica da ordem burguesa<br />

emergente, contra a “ética do trabalho” que centraliza a nova configuração social, contra a<br />

24 Catecismo Anarquista, A Vida, ano I, nº 5, 31/03/1915.

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