12.04.2013 Views

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

insuperáveis, e além disso integrava com a coragem temerária a covardia dos seus<br />

companheiros. Era o Tirteu no meio daqueles dois lace<strong>de</strong>mônios irresolutos.<br />

Manuel João procur<strong>ou</strong> o seu valioso amigo somente na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

hóspe<strong>de</strong>, porquanto não tinha <strong>ou</strong>tra pessoa a quem recorresse. Também limit<strong>ou</strong>-se<br />

a narrar o que se passava com ele, <strong>de</strong>ixando à margem as relações do fazen<strong>de</strong>iro<br />

com Antonica.<br />

Vingava-se <strong>de</strong>sta sorte do ven<strong>de</strong>iro que, em vez <strong>de</strong> consolá-lo na sua<br />

<strong>de</strong>sventura, achara azada ocasião para censurá-lo. Certo <strong>de</strong> que o Viana nada<br />

resolveria por si só, encobrir a Sebastião o que dizia respeito ao ven<strong>de</strong>iro importava<br />

torturá-lo ao menos por alguns dias.<br />

Mas infelizmente para o ex-feitor o seu cálculo foi <strong>de</strong> relance burlado; duas<br />

horas <strong>de</strong>pois da sua chegada à ch<strong>ou</strong>pana do amigo, o Viana gritava à porta o<br />

familiar — olé <strong>de</strong> casa! E entregava ao critério do protetor e guia comum as suas<br />

mágoas e sustos.<br />

O violeiro <strong>ou</strong>viu com o maior sangue frio a exposição dos acontecimentos<br />

que se atropelavam a favor dos três conjurados, respon<strong>de</strong>ndo apenas à ansieda<strong>de</strong><br />

do Viana com um freqüente — continue.<br />

Quando Viana concluiu a narração e aflitíssimo começ<strong>ou</strong> a dar aos diabos o<br />

pensamento <strong>de</strong> possuir Antonica, o violeiro <strong>de</strong>sat<strong>ou</strong> numa gargalhada estri<strong>de</strong>nte e<br />

franca e exclam<strong>ou</strong> com uma alegria feroz.<br />

— Então o Tebas está pelo beiço pela Antonica! É verda<strong>de</strong> mesmo, o diabo<br />

não abandona os seus.<br />

Não era isto o que os dois interessados esperavam <strong>ou</strong>vir <strong>de</strong> Sebastião; a<br />

calma do violeiro percutiu-lhes a <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira esperança e ambos bradaram furiosos:<br />

— Com os diabos! Você está sempre a ver motivo para risadas, mesmo<br />

quando o caso não é para isto.<br />

— Poiso que e que vocês querem, continu<strong>ou</strong> Sebastião ,que não parava <strong>de</strong><br />

rir-se; est<strong>ou</strong> com o melro seguro. Vocês vão ver.<br />

Após a expansão estrondosa, que sobremaneira <strong>de</strong>snorteava os dois<br />

timoratos conjurados; Sebastião, assumindo um ar grave, pôs-se a passear <strong>de</strong> um<br />

para o <strong>ou</strong>tro lado da sala <strong>de</strong>sornada.<br />

Dur<strong>ou</strong> p<strong>ou</strong>co a meditação. Acercando-se <strong>de</strong> Viana disse o violeiro<br />

seriamente:<br />

— Isto <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> do mais arranjado com o pobre é sempre uma boa pulha.<br />

Diga portanto cá, seu Viana; você quer gastar alguma c<strong>ou</strong>sa <strong>ou</strong> não quer?<br />

— Assim como vão as coisas, respon<strong>de</strong>u o ven<strong>de</strong>iro, há <strong>de</strong> ir tudo pelos<br />

ares. Est<strong>ou</strong> pronto para a <strong>de</strong>spesa.<br />

— Pois dê-me <strong>de</strong> cinco a <strong>de</strong>z mil réis, e <strong>de</strong>ixe rolar o dado por minha conta.<br />

Vá para a sua bo<strong>de</strong>ga sem medo, porque se o. indivíduo não lhe mandar tirar a vida<br />

pelos escravos, há <strong>de</strong> pagar-nos com língua <strong>de</strong> palmo.<br />

— Mas o que é que você vai fazer? Homem.<br />

— Isto é segredo, escorripiche o cobre, que é o que serve.<br />

Satisfeita, não sem escrúpulos e pesar, a exigência <strong>de</strong> Sebastião, o ven<strong>de</strong>iro<br />

tom<strong>ou</strong> para a sua vendola, cujas portas teve a precaução <strong>de</strong> especar sólida e<br />

cuidadosamente.<br />

95

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!