12.04.2013 Views

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

As bagas mornas <strong>de</strong> suor como que se converteram em estrofes, aladas em<br />

sons melancólicos <strong>de</strong> monotonia pungente, inspiração <strong>de</strong> poetas <strong>de</strong>sconhecidos,<br />

talvez mártires <strong>de</strong> igual <strong>de</strong>stino, e por isso mesmo privando a intimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas as<br />

tristezas, <strong>de</strong>silusões, <strong>de</strong>salentos, queixas e suspiros da escravidão.<br />

Um <strong>de</strong>sses cantos era assim:<br />

Nasce a flor, rebenta o fruto,<br />

Seca o fruto, a folha cai,<br />

Ai!<br />

Mas a água do ribeiro<br />

Rolando, rolando vai,<br />

E se espedaça na grota,<br />

Porém das bordas não sai.<br />

Ai!<br />

Corre a enxurrada roncando<br />

Grita aos rios: — transbordai!<br />

Ai!<br />

Mas a água do ribeiro<br />

Rolando, rolando vai.<br />

Suspira e chora na grota,<br />

Porém das bordas não sai.<br />

Ai!<br />

Some-se a lua na aurora,<br />

No sol a estrela se esvai,<br />

Ai!<br />

Mas a água do ribeiro<br />

Rolando, rolando vai;<br />

Em vão soluça na grota,<br />

Porque das bordas não sai.<br />

Ai!<br />

Triste sorte a do cativo<br />

Seja filho, <strong>ou</strong> seja pai,<br />

Ai!<br />

E triste como o ribeiro<br />

Que sempre rolando vai,<br />

E se espedaça na grota<br />

Porém das bordas não sai,<br />

Ai!<br />

A tia Balbina, mais do que nenhum <strong>ou</strong>tro; <strong>de</strong>ixava transluzir no semblante o<br />

júbilo que lhe ia nalma. Duas vezes vitoriosa elevava-se ante o ex-feitor e isto<br />

firmava cada vez mais os seus créditos <strong>de</strong> invencível.<br />

Às horas do jantar, contentes como bons amigos que se banqueteiam. os<br />

infelizes riam alegremente diante das cuias, e adubavam a refeição com lisonjeiras<br />

observações.<br />

— A tia Balbina mat<strong>ou</strong> dois coelhos <strong>de</strong> uma só paulada.<br />

— Tem mão certa.<br />

— Quando ela diz uma c<strong>ou</strong>sa acontece por força.<br />

79

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!