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Motta Coqueiro ou a Pena de Morte - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Sr. Manuel João, está <strong>de</strong>sobrigado da feitoria do meu sítio; eu quero<br />

castigos mas não vinganças.<br />

O miserável rapaz fic<strong>ou</strong> por muito tempo estatelado sem po<strong>de</strong>r pronunciar<br />

uma única silaba.<br />

— Mas, meu amo, observ<strong>ou</strong> ele por fim; eu não posso sair hoje daqui; não<br />

tenho para on<strong>de</strong> ir. Se meu amo não está satisfeito comigo como feitor, <strong>de</strong>ixe-me<br />

ficar por enquanto como trabalhador.<br />

<strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> tinha-se voltado para os escravos e caminhava para eles,<br />

simulando não ter <strong>ou</strong>vido ao confuso Manuel João.<br />

— Oh! Lá, vocês ficam por ora às or<strong>de</strong>ns do Fidélis; é com ele que têm <strong>de</strong><br />

se enten<strong>de</strong>r.<br />

Olhando, porém, para o ex-feitor, <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong> fraquej<strong>ou</strong> na resolução <strong>de</strong><br />

fazê-lo sair imediatamente do sítio.<br />

O homem, que por vezes tinha-lhe feito emboscadas, cujo rancor pelo<br />

fazen<strong>de</strong>iro era extraordinário, quedava covar<strong>de</strong>mente após tão gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfeita na<br />

mais humil<strong>de</strong> posição.<br />

Tinha o chapéu <strong>de</strong> lebre sobre o cabo do rebenque e os braços cruzados<br />

sobre este.<br />

O rosto exprimia simplesmente o vexame que o acabrunhava, mas nem <strong>de</strong><br />

leve um indício <strong>de</strong> cólera; parecia resignado a cumprir a pena, que a sua<br />

imprudência havia provocado.<br />

Completamente <strong>de</strong>sarmado pela atitu<strong>de</strong> inesperada do ex-feitor, <strong>Motta</strong><br />

<strong>Coqueiro</strong>, querendo dissimular a própria falta <strong>de</strong> energia, dirigiu-se a ele, dizendo:<br />

— Eu preciso <strong>de</strong> trabalhadores; se quer ficar, faça o que enten<strong>de</strong>r; mas<br />

lembro-lhe que o sítio está a cargo do Fidélis.<br />

Era a melhor evasiva encontrada <strong>de</strong> pronto pelo explosivo, e ao mesmo<br />

tempo bondoso coração do fazen<strong>de</strong>iro.<br />

Em rápido raciocínio convencera-se <strong>de</strong> que Manuel João não se <strong>de</strong>cidiria a<br />

submeter-se à autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um escravo sobre o qual ainda havia p<strong>ou</strong>co tinha<br />

po<strong>de</strong>res discricionários.<br />

A proposta, pens<strong>ou</strong> <strong>Motta</strong> <strong>Coqueiro</strong>, irritá-lo-á e assim evitarei que ele<br />

continue. Mas a baixeza <strong>de</strong> caráter do ex-feitor excedia todos os limites imagináveis.<br />

— Não importa, não, meu amo; o que eu quero é trabalhar, ao menos até<br />

arranjar <strong>ou</strong>tra casa.<br />

Retiraram-se ambos, o fazen<strong>de</strong>iro quase arrependido da severida<strong>de</strong> com<br />

que punira o empregado e este com o <strong>de</strong>sembaraço do homem <strong>de</strong>sbrioso.<br />

Os pretos ficaram sós, mas nem por isso a ativida<strong>de</strong> diminuiu nem o trabalho<br />

<strong>de</strong>sacalor<strong>ou</strong>-se.<br />

Um <strong>de</strong>safogo íntimo substituiu a pressão moral que os oprimia, e agora<br />

podiam livremente medir o esforço para o obrigado labutar, sem fim na vida, como a<br />

montanha <strong>de</strong> Sísifo.<br />

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